As apostas duvidosas de Salles no mercado de carbono

Salles mercado de carbono
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Os ministros Salles e Araújo apostam no esquecimento e na boa vontade mostrada pelo novo governo Biden. Por exemplo, um artigo assinado por Salles, no Estadão, diz que o país responde muito pouco pelas emissões globais, usando dados que só contabilizam as que vêm da queima de combustíveis fósseis e não levam em consideração as do desmatamento. A incluir as emissões dos desmatamento e as do rebanho bovino, nossa posição no ranking das emissões globais sobe bastante. Na sequência, Salle bate na velha tecla de que os países ricos são mais responsáveis do que o Brasil. Para Salles, é uma glória morrer afogado no aquecimento global dizendo que a culpa não é nossa.

Salles e Araújo parecem ter mudado, nada sutilmente, de posição. Segundo, Natalie Untersell, na sua coluna na Época, o freio de mão que o Brasil manteve puxado nas negociações do mercado de carbono do Acordo de Paris, talvez comece a ser aliviado. Para quem instou o presidente a não receber a COP25, que destratou os doadores do  Fundo Amazônia e acusou Deus e o mundo de conspirar contra a nação e dizer que o aquecimento global é uma conspiração chinesa, a meia-volta carpada mostra a total ausência de espinha dorsal dos ministros. Até parece que o governo tomou um banho de relações públicas e descobriu que bater de frente contra o mundo faz mal à pauta de exportações. Como estamos vendo uma estação de chuvas caprichada, o desmatamento e as queimadas podem ficar abaixo dos valores históricos dos últimos dois anos.

Ainda sobre o mercado de carbono, um artigo n’O Globo cita que a implementação do Código Florestal teria o potencial de sequestrar e armazenar 100 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente. Isso equivale a 2 anos de emissões globais nos níveis atuais. E a 20% de tudo que a Floresta Amazônica, do Brasil ao Equador, armazena. É como se tivéssemos que fazer surgir uma nova Floresta Amazônica a cada 5 anos. O mercado de carbono tem uma dupla função: estabelece um preço para as emissões, sinalizando ao mercado a importância de se precificar o aquecimento global, e atrai investimentos para atividades de mitigação e remoção de gases de efeito estufa. Isto posto, é importante lembrar que não há floresta ou planeta suficiente para compensar a quantidade de combustíveis fósseis que a sociedade humana segue queimando.

 

ClimaInfo, 8 de março de 2021.

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