Acordo Mercosul-UE pode “turbinar” impactos ambientais da pecuária no Brasil

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A implementação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia pode resultar em uma escalada da pressão da pecuária sobre biomas sensíveis, como a Amazônia e o Pantanal, intensificando o desmatamento e causando dificuldades para Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais nessas regiões. Essa é a conclusão de um relatório publicado nesta 4ª feira (24/3) pela Repórter Brasil, em parceria com a Friends of the Earth, que analisou como a indústria da carne bovina poderá ser beneficiada pelo acordo comercial e os efeitos ambientais disso no país.

Segundo o documento, o acordo vai ampliar as vendas das quatro grandes companhias brasileiras do setor de proteína animal (JBS, Marfrig, Minerva e a não bovina BRF): isso porque, além da cota de 200 mil toneladas de carne bovina exportada atualmente, o tratado prevê a abertura de uma faixa extra de 99 mil toneladas provenientes do Mercosul, sendo que o Brasil deverá absorver pelo menos 40% desse volume adicional. O volume adicional de carne a ser vendido pelo Brasil à UE pode colocar mais pressão sobre a cadeia de fornecimento, que ainda enfrenta dificuldades para aplicar sistemas de monitoramento e garantia da legalidade da proveniência do produto. Dessa forma, atividades ilegais como a “lavagem de gado” – a venda de gado criado em áreas irregulares (desmatadas ilegalmente, embargadas por trabalho análogo à escravidão ou por uso de mão de obra infantil) por fazendas regulares – podem ganhar mais força, estimulando o desmatamento ilegal.

Em tempo 1: A JBS anunciou que pretende zerar suas emissões líquidas de carbono até 2040, em uma tentativa de se distanciar de críticas internacionais sobre o impacto de seus negócios sobre o meio ambiente no Brasil. Para tanto, ela investirá cerca de US$ 1 bilhão nos próximos dez anos na redução das emissões de carbono de suas operações, como o plantio de 12 milhões de árvores por ano – o que equivale a 100 km2, um número minúsculo quando comparado com os 10 mil km2 desmatados no último ano na Amazônia. Esse é o primeiro compromisso de descarbonização feito por uma empresa do setor frigorífico no Brasil. Reuters e Valor destacaram o anúncio.

Em tempo 2: O Valor deu espaço para os compromissos ambientais de outras traders de carne bovina e soja com operações no Brasil. A ADM anunciou que pretende eliminar o desmatamento de suas cadeias de abastecimento até 2030, com suas fontes diretas e indiretas de fornecimento de soja no Brasil, no Paraguai e na Argentina 100% rastreadas até o final de 2022. A Bunge também reforçou sua meta de acabar com o desmatamento em toda a sua cadeia de fornecimento até 2025. Já a Marfrig sugeriu que a neutralidade do carbono pode ser atingida até 2050, mas a empresa ainda estuda como isso pode ser feito e, se possível, antecipado para 2035 ou 2040.

 

ClimaInfo, 25 de março de 2021.

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