Amazônia liberou mais carbono do que absorveu nos últimos dez anos

Amazônia emissões

Um recente balanço de carbono da Amazônia mostrou que a floresta emite mais gases de efeito estufa do absorve. O trabalho, que acaba de sair na Nature, analisou fotos de satélite e fez uma comparação com as publicações do INPE (PRODES) e da Global Forest Watch.  Restrita à parte brasileira da floresta (cerca de 60% do total) no período entre 2010-2019, a pesquisa não levou em conta a variação dos estoques de carbono no subsolo e na serapilheira (galhos, folhas e outras biomassas acumuladas no chão da floresta). Ela estima que as emissões pela degradação da floresta são 3 vezes maiores do que pelo desmatamento em si, o que confere com os dados do DETER, que apontam para uma área de degradação 3,5 vezes maior do que a área de corte raso. Por conta do desmatamento e da degradação, o volume de CO2 absorvido pelo crescimento de árvores foi 15% menor do que o total emitido.  Vale ver as matérias a respeito que saíram nos UOL, Época e The Guardian. A France24 também comentou, dizendo que a floresta está passando de amigo para inimigo. Talvez o inimigo seja outro.

Um sinal (des)colorido desta destruição são as borboletas. Em um trabalho publicado no ano passado na Biodiversity & Conservation, pesquisadores constataram que nas áreas desmatadas predominam borboletas pardacentas, menos visíveis aos olhos dos predadores. No meio do século 19, um naturalista britânico escreveu sobre as borboletas amazônicas “Um infinito número de espécies raras e curiosas (…) Algumas são amarelas, outras vermelho-vivo, verde, roxas e azuis. Podem ter linhas metálicas e manchas prateadas e douradas. Asas transparentes como vidro (…) ou na forma de pétalas de flores”. Ana Lúcia Azevedo, n’O Globo, compara com uma das histórias clássicas provando a teoria da evolução. Por conta da fumaça negra das fábricas inglesas do século 19, as mariposas escuras passaram a dominar um ambiente até então ocupado pelas claras. Agora, o domínio das pardacentas confirma o grau de destruição da floresta.

Em tempo: Uma matéria no Financial Times mandou um recado claro para o governo que insiste em pedir recursos externos para controlar o desmatamento: esquemas como o “Adote um Parque” são adequados para fundos filantrópicos e não para o mercado financeiro e corporações. Para estes últimos, seria melhor o governo emitir títulos verdes, os green bonds, atrelando descontos nos juros a resultados concretos de conservação e proteção dos ecossistemas.

 

ClimaInfo, 4 de maio de 2021.

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