Nos artigos e discussões recentes sobre mercados de carbono, pouca atenção se tem dado a um verdadeiro mercado de carbono nacional do tipo cap and trade. Houve ensaios nos primeiros anos pós-Política Nacional sobre Mudança do Clima e um esforço coordenado pelo então Ministério da Fazenda e Banco Mundial que, até o momento, resultou em uma pilha de relatórios muito bons, mas trancados em alguma gaveta do Guedes.
Diferente das polêmicas em torno dos créditos de carbono de projetos, um mercado maduro e funcional se capacitaria para interagir com outros mercados internacionais, como o da Europa e, neste caso, atraindo investimentos em um setor produtivo com pegada de carbono bem menor. Hoje, as emissões a serem cobertas pelo mercado seriam da ordem de centenas de milhões de toneladas de carbono. Parece pouco: menos de 25% das emissões nacionais. Mas é algo como 10% do volume de permissões em circulação no maior mercado do mundo, o europeu. E, se os planos governamentais que sujarão nossa matriz energética com gás natural forem em frente, estará queimando, junto com o gás, nossa vantagem competitiva.
Andrea Vialli, no Valor, conversou com especialistas e empresas sobre a transição energética do país. Para Julião Coelho, a legislação do setor está atrasada e precisa integrar sistemas de armazenamento e, em breve, todo o arcabouço para o hidrogênio. Ricardo Mussa, presidente da Raízen, falou um pouco sobre a empresa estar destravando a tecnologia de produção de biogás a partir da vinhaça e da torta de filtro. Para cada litro de etanol produzido em uma destilaria, saem por volta de 12 litros de vinhaça. O gás multiplicaria o potencial de geração de eletricidade das plantas.
Roberto Rockmann, também para o Valor, fala do papel importante da incorporação das negociações climáticas no planejamento energético e comenta os sucessivos cortes no orçamento da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) responsável, em tese, pelos estudos energéticos de longo prazo. Cortes estes que trarão prejuízos para o país, inclusive em futuros mercados de carbono.
ClimaInfo, 03 de maio de 2021.
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