Aumento do desmatamento amazônico reforça pressão internacional sobre governo Bolsonaro

Bolsonaro pressão internacional

O governo Bolsonaro pode preparar suas orelhas, porque estas devem arder mais nas próximas semanas. A alta histórica do desmatamento na Amazônia em abril passado colocou dificuldades adicionais à estratégia do Planalto de reverter o mau humor internacional com a política ambiental brasileira.

Nas últimas semanas, países como Portugal e Espanha vinham pressionando a Comissão Europeia para acelerar a tramitação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, travado por causa da incerteza de diversos governos europeus sobre o impacto do tratado na conservação da Amazônia brasileira. Os novos dados do desmatamento certamente não ajudarão a dirimir essa desconfiança.

Como explicou à CNN Brasil a ministra do exterior da Espanha, Arancha González Laya, a sociedade civil europeia está atenta à situação ambiental no Brasil, o que explica a movimentação recente de empresas e investidores para cobrar ações de conservação florestal por parte do governo brasileiro.

Também na Europa, o governo da Noruega segue atento à situação da Amazônia. De acordo com o G1, o embaixador norueguês no Brasil, Nils Martin Gunneng, voltou a sinalizar que Oslo está interessada em “recomeçar” a parceria com Brasília para a proteção da floresta, mas somente se houver “vontade política” da parte do governo brasileiro. A Noruega era a principal doadora do Fundo Amazônia, travado desde 2019 por desavenças com o Brasil acerca de sua governança.

Bolsonaro também deverá encontrar mais dificuldades no diálogo com os EUA. No site POLITICO, Zack Colman e Michael Grunwald fizeram um panorama das conversas entre os dois países, que se desenrolam há alguns meses, sem uma conclusão potencial à vista. Inicialmente, a esperança da Casa Branca era chegar a um acordo com o Brasil sobre a proteção da Amazônia antes da Cúpula Climática, o que não aconteceu. O principal nó a ser desatado está na dinâmica a ser adotada na cooperação entre os dois países: enquanto os brasileiros querem receber recursos financeiros sem se amarrar a metas e resultados específicos, os norte-americanos entendem que isso é condição básica para qualquer acordo.

O diagnóstico de dificuldades também foi ressaltado pelo cineasta Fernando Meirelles, o cientista Paulo Artaxo e a ativista Paloma Costa em live realizada pelo Valor na 5a feira (6/5). Para eles, a pressão internacional seguirá crescendo sobre o Brasil, especialmente se o governo mantiver uma conduta irresponsável com a floresta, facilitando sua destruição às custas do clima global. Isso significa que, para o Brasil, a questão climática se tornará um dos pontos mais importantes em sua política externa.

 

ClimaInfo, 10 de maio de 2021.

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