Omissão, o ingrediente não tão secreto da crise do setor elétrico

21 de junho de 2021

A estiagem que atinge o centro-sul do Brasil e que ameaça colocar o país em mais uma crise de fornecimento de eletricidade apenas precipitou problemas que já eram conhecidos pelo governo federal, e que pouco ou nada agiu para evitar o risco de colapso. A Folha fez um levantamento dos alertas feitos pelo Tribunal de Contas da União (TCU) na última década: o órgão identificou ao menos dez problemas com potencial de dano aos consumidores de energia elétrica no Brasil. Destes, apenas um foi parcialmente resolvido pelo governo – a superavaliação da energia gerada, causada pelo descompasso entre a energia gerada e a contratada por usinas hidrelétricas, o que segue causando prejuízos de R$ 3,5 bilhões por ano aos consumidores.

Entre os problemas ignorados pelo governo, estão o atraso na entrega de obras de geração e transmissão de energia, o aumento da potência das usinas existentes, a demora no reajuste tarifário e o elevado nível de perdas de energia pelo sistema.

A incapacidade do governo federal de modernizar e resolver os problemas estruturais do setor elétrico tem se refletido diretamente no bolso dos consumidores. A inadimplência nas contas de energia, água e gás representou mais de 22% do total de débitos não quitados pelos consumidores brasileiros em maio passado, segundo dados da Serasa reportados pela Folha.

Os custos associados à conta de luz devem continuar salgados: o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estuda manter 100% das usinas termelétricas ativas mesmo durante o período chuvoso, entre setembro e março, para evitar o risco de racionamento em 2022, ano eleitoral. O Valor deu mais detalhes e também abordou estudos do governo para ampliar a geração termelétrica nos próximos anos.

Enquanto isso, especialistas fazem as contas para estimar qual é o risco de um racionamento de eletricidade. O diagnóstico feito pelo Estadão é ligeiramente otimista: a possibilidade de um “apagão” no Brasil ainda é pequena, especialmente se as medidas emergenciais anunciadas recentemente pelo governo forem tiradas do papel.

Já o Valor destacou o temor de alguns analistas com o risco maior de desabastecimento nos horários de pico de consumo do sistema. Neste ponto, O Globo mostrou a proposta mais recente feita pelo setor industrial ao governo federal para evitar um racionamento: redução de 5% do consumo nos horários de pico entre julho e abril, com remuneração às empresas que conseguirem cumprir a meta.

Em tempo 1: A Folha ouviu especialistas sobre a relação entre a estiagem e as mudanças climáticas. A falta de chuvas está associada com o La Niña, fenômeno meteorológico que resfria as águas do Pacífico central. Ao mesmo tempo, pesquisas começam a sustentar que o desmatamento na Amazônia e a elevação da temperatura média global também estão contribuindo para a seca. Em entrevista ao ClimaInfo, o físico e climatologista Paulo Artaxo foi assertivo: La Ninã, desmatamento da Amazônia e aquecimento global, tudo junto e misturado, são os fatores indutores da crise hídrica.

Em tempo 2: A crise hídrica está ganhando destaque na imprensa internacional. Neste final de semana, os jornais The New York Times e Financial Times abordaram o risco de colapso elétrico e a ameaça da seca para a agricultura e o abastecimento de água nas cidades do Sudeste e Centro-Oeste.

 

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ClimaInfo, 21 de junho de 2021.

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