A cascata em série de pontos de ruptura

tipping points climáticos

Quatro dos grandes sistemas climáticos estão próximos de seus pontos de ruptura (tipping points) e a desestabilização de um deles pode empurrar os outros para além do ponto sem retorno. No começo do mês, comentamos um trabalho publicado na Copernicus sobre estas conexões e os efeitos sobre os sistemas da temperatura média global atingir 2°C, a meta cravada no Acordo de Paris. O trabalho conecta o derretimento das geleiras na Groenlândia e na Antártica, a redução da Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês) e a Floresta Amazônica. O aumento da temperatura global acelera o derretimento das plataformas de gelo da Groenlândia. A AMOC inclui a Corrente do Golfo que transporta, basicamente na superfície, as águas quentes do Caribe e Golfo do México para o norte, margeando o litoral oeste de Irlanda, Grã-Bretanha e Escandinávia. Essas águas vão se resfriando e ao se aproximar do Círculo Polar, afundam. Essa água fria é levada de volta para os trópicos onde, aquecidas, voltam à superfície. Outra característica desta corrente é sua salinidade. A corrente quente que vai em direção ao norte é mais salgada e a corrente fria que volta é menos salgada. O derretimento das geleiras despeja muita água doce no mar, o que faz a AMOC ralentar e a região de capotamento mover-se em direção ao Equador. Com isso, a parte do calor que ia para o norte fica “preso” nos trópicos. Nobre explica que esse calor extra favorece secas mais fortes na Amazônia e a floresta pode atingir seu ponto de ruptura. Parte desse calor acaba indo para o outro pólo, acelerando o degelo da Antártica.

Nas simulações feitas, mesmo limitando-se o aquecimento global conforme acordado em Paris, ou seja, aos 2°C, é alta a probabilidade desses dominós sistêmicos derrubarem uns aos outros.

A BBC fez um excelente resumo do trabalho que nos fez voltar ao assunto, inclusive conversando com o climatólogo Carlos Nobre sobre a conexão do clima na Amazônia com os outros 3 sistemas.

 

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ClimaInfo, 29 de junho de 2021.

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