O papel dos mercados voluntários de carbono

mercados de carbono

As discussões sobre os mercados de carbono seguem gerando mais expectativas e confusões do que conclusões e resultados. Ontem uma iniciativa internacional para ampliar o mercado voluntário publicou seu relatório com várias recomendações. O que surpreendeu os analistas foi sugerir criar um organismo internacional para regular o mercado e acalmar as críticas que a iniciativa vem recebendo desde o ano passado. À primeira vista, segundo a Reuters e o The Guardian, não adiantou. A principal crítica é a de que sem compromissos fortes de redução de emissões por parte das empresas, um mercado de carbono é irrelevante. Outra crítica forte que havia era a de que a história dos projetos de carbono é cheia de créditos imerecidos, conseguidos burlando ou esticando as cordas de metodologias e outras regras. Foi para enfrentar estas críticas que a força-tarefa propôs uma governança mundial. Só que as falhas regras existentes foram criadas ao longo de mais de 20 anos de muito trabalho, tentativa e erro. Construir metodologias e regras sob bases diferentes é possível, mas tomará tempo e custará caro. A Época trouxe uma visão do lado cheio do copo, falando da projeção de negócios de carbono na casa de US$ 100 bilhões até 2050, e o Financial Times destacou as falas do principal articulador, o ex-presidente do banco central britânico, Mark Carney.

Em todo caso, 4 bancos se juntaram para testar uma plataforma de carbono. O consórcio formado pelo Itaú, o canadense CIBC, o australiano NAB e o britânico NatWest anunciaram que lançarão o piloto do Projeto Carbono no mês que vem. Segundo o press-release, também divulgado na News Wire,  trata-se de uma plataforma para se transacionar créditos de carbono de qualidade. A notícia também saiu no ValorEdie e GreenBiz.

Vale ressaltar que os mercados de carbono servem para que a redução de uma tonelada de carbono custe menos. Como muitos desses custos menores acontecem em países em desenvolvimento, os mercados também servem para transferir renda dos países ricos para os mais pobres. Os mercados de carbono não reduzem emissões. Para enfrentar o aquecimento global, é preciso que países, empresas e pessoas reduzam as emissões do que produzem e consomem e é preciso que as metas de redução fiquem cada vez mais ambiciosas, com ou sem mercados de carbono. Vale ver a crítica chumbo grosso de Jennifer Morgan, do Greenpeace.

Do outro lado, Jos Cozijnsen, no mês passado escreveu um artigo de opinião no Ecosystem Marketplace defendendo os mercados voluntários porque a ONU pode ser um bom lugar para a discussão política em torno de regras de integridade, mas é um péssimo lugar para se gerir as entranhas de um mercado de carbono.

 

Leia mais sobre precificação de carbono e descarbonização da economia no ClimaInfo aqui.

 

ClimaInfo, 9 de julho de 2021.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.