“Queima de estoque” na indústria petroleira pode deixar ativos fósseis com empresas mais frágeis

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No Financial Times, Bill Barnes fez uma reflexão pertinente sobre as transformações que a indústria petroleira pode sofrer por causa do avanço das fontes renováveis e da diminuição do consumo de combustíveis fósseis nas próximas décadas. O desastre da Deepwater Horizon, que despejou mais de três milhões de barris de petróleo em 2010 no Golfo do México, custou mais de US$ 70 bilhões à BP e suas parceiras. Esses custos foram arcados em grande parte por causa da capacidade financeira da petroleira britânica, uma das maiores empresas do setor. E se o acidente tivesse acontecido nas mãos de uma outra empresa, menor e com menos força financeira, e de capital fechado? Quem pagaria a conta?

Essa pode ser uma questão importante no médio prazo, na medida em que o Big Oil se desvencilhar de ativos fósseis por conta de seus compromissos climáticos. A mudança acontece em grande parte por causa da pressão de investidores, que aproveitaram os espaços de governança dessas empresas para pressionar seus executivos – como visto recentemente com a ExxonMobil. Os principais candidatos a assumir esses ativos fósseis, desinteressantes para as gigantes do setor, são empresas menores, menos preocupadas com questões estratégicas de longo prazo e mais interessadas em ganhos rápidos.

“Essas transações podem permitir que as empresas vendedoras [dos ativos] reduzam suas emissões diretas [de carbono], mas podem deixar os ativos em mãos mais fracas, incapazes de cumprir as responsabilidades decorrentes de uma falha catastrófica”, escreveu Barnes. Isso implica que o setor de energia, bem como os governos responsáveis por sua fiscalização, precisa prestar atenção nesses movimentos para mitigar eventuais riscos e evitar que essas operações apenas repassem passivos do Big Oil para empresas menos capazes de arcar com esse ônus.

Em tempo: Enquanto o Big Oil quer vender seus ativos fósseis mundo afora, no Brasil as gigantes do setor ainda buscam por um último boom de combustíveis fósseis antes de uma transição para o carbono zero. Na Bloomberg, Peter Millard escreveu sobre esse panorama: a produção de petróleo no Brasil deve crescer na maior proporção do mundo até 2026, com vistas a dobrar as exportações do produto no final desta década. Animados com essa perspectiva, empresas como ExxonMobil, Shell e Total querem “raspar o tacho” da produção de petróleo no país, ao menos enquanto ainda houver interesse por parte do poder público brasileiro.

 

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ClimaInfo, 28 de julho de 2021.

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