“Queima de estoque” na indústria petroleira pode deixar ativos fósseis com empresas mais frágeis

28 de julho de 2021

No Financial Times, Bill Barnes fez uma reflexão pertinente sobre as transformações que a indústria petroleira pode sofrer por causa do avanço das fontes renováveis e da diminuição do consumo de combustíveis fósseis nas próximas décadas. O desastre da Deepwater Horizon, que despejou mais de três milhões de barris de petróleo em 2010 no Golfo do México, custou mais de US$ 70 bilhões à BP e suas parceiras. Esses custos foram arcados em grande parte por causa da capacidade financeira da petroleira britânica, uma das maiores empresas do setor. E se o acidente tivesse acontecido nas mãos de uma outra empresa, menor e com menos força financeira, e de capital fechado? Quem pagaria a conta?

Essa pode ser uma questão importante no médio prazo, na medida em que o Big Oil se desvencilhar de ativos fósseis por conta de seus compromissos climáticos. A mudança acontece em grande parte por causa da pressão de investidores, que aproveitaram os espaços de governança dessas empresas para pressionar seus executivos – como visto recentemente com a ExxonMobil. Os principais candidatos a assumir esses ativos fósseis, desinteressantes para as gigantes do setor, são empresas menores, menos preocupadas com questões estratégicas de longo prazo e mais interessadas em ganhos rápidos.

“Essas transações podem permitir que as empresas vendedoras [dos ativos] reduzam suas emissões diretas [de carbono], mas podem deixar os ativos em mãos mais fracas, incapazes de cumprir as responsabilidades decorrentes de uma falha catastrófica”, escreveu Barnes. Isso implica que o setor de energia, bem como os governos responsáveis por sua fiscalização, precisa prestar atenção nesses movimentos para mitigar eventuais riscos e evitar que essas operações apenas repassem passivos do Big Oil para empresas menos capazes de arcar com esse ônus.

Em tempo: Enquanto o Big Oil quer vender seus ativos fósseis mundo afora, no Brasil as gigantes do setor ainda buscam por um último boom de combustíveis fósseis antes de uma transição para o carbono zero. Na Bloomberg, Peter Millard escreveu sobre esse panorama: a produção de petróleo no Brasil deve crescer na maior proporção do mundo até 2026, com vistas a dobrar as exportações do produto no final desta década. Animados com essa perspectiva, empresas como ExxonMobil, Shell e Total querem “raspar o tacho” da produção de petróleo no país, ao menos enquanto ainda houver interesse por parte do poder público brasileiro.

 

Leia mais sobre indústrias petroleiras e crise do petróleo no ClimaInfo aqui.

 

ClimaInfo, 28 de julho de 2021.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar