Limitar o aquecimento global sai caro, mas menos do que não fazer nada

paulo artaxo

Na Alemanha, como em muitos outros lugares, pesquisas mostram que a grande preocupação que o público manifesta em relação à mudança do clima não se traduz em votos e, portanto, em políticas concretas. Os resultados das eleições alemãs do final de semana ilustram bem a dificuldade da pauta climática.

Daniela Chiaretti, no Valor, reporta pesquisas feitas na Alemanha mostrando que 70% dos entrevistados são a favor da transição energética e que 60% acham que o passo atual é muito lento. No entanto, os partidos com propostas climáticas fortes receberam apenas 20% dos votos. Lembrando que a recente enchente matou quase 200 alemães e que o governo teve que aportar €35 bilhões para a reconstrução das regiões atingidas. Comparando com o investimento necessário para parar de queimar carvão, que está estimado em €40 bilhões, mostra que falta pouco para o custo da inação superar o da transição energética.

No entanto, governos mais comprometidos talvez não sejam o suficiente. Nos países ricos, a indústria e o setor energético respondem por cerca de 75% das emissões. Sem o engajamento sério do setor privado, as emissões continuarão caindo devagar demais para evitar que a temperatura ultrapasse a marca dos 2°C, quanto mais a do desejado 1,5°C. Esta foi a visão que o físico e climatologista  Paulo Artaxo, da USP, passou para a Época, acrescentando que, no caso brasileiro, “há ainda empresas do agronegócio que acham positivo desmatar a Amazônia. Não entendem que isso compromete o futuro da produção de alimentos no Brasil.”

O Canal Rural traz o deputado Marcelo Ramos falando sobre seu projeto de lei que cria um mercado de carbono nacional. Em uma primeira fala, Ramos disse que “setor agropecuário não será incluído nas metas de emissão de carbono por já ser um setor com baixa emissão”, para, quase em seguida, dizer que neste futuro mercado, “a agroindústria teria metas específicas; quem emitir mais que a sua meta pode comprar créditos das empresas que emitem menos”. Ramos também evitou dizer que o setor responde por 30% das emissões nacionais, o que não é exatamente baixo.

 

ClimaInfo, 30 de setembro de 2021.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.