Credibilidade dos créditos de carbono em xeque

Desde 2019, BP, Total e Gazprom realizaram cerca de 30 operações casadas de venda de gás natural liquefeito junto com os créditos de carbono necessários para compensar as emissões quando fossem queimados. Segundo o Financial Times, o acréscimo ao preço foi de poucos centavos.

Este é um dos exemplos que explicam a oposição aos créditos de carbono: eles permitem que as petroleiras prolonguem a exploração e consumo dos principais responsáveis pelo aquecimento global. O Greenpeace e a Amazon Watch, por exemplo, defendem o fim dos créditos de carbono junto com o fim da exploração dos fósseis.

Os créditos de carbono também estão na mira de quem entende que iniciativas lideradas por Mark Carney, ex-presidente do Banco da Inglaterra e do Canadá, estão abrindo as portas para um greenwashing em escala global. Citam a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) e a Taskforce on Scaling Voluntary Carbon Markets (TSVCM) que contam com a adesão de pesos pesados do mundo financeiro com fortes conexões com o setor fóssil. Mais de 90 grupos da sociedade civil canadense enviaram uma carta a Carney pedindo para fazer de tudo para “subir a barra da ação climática do setor financeiro que leve a uma redução de emissões financiadas [pelo setor] e no ritmo exigido pela ciência. Qualquer coisa aquém disso será vista como um fracasso em relação à suas obrigações.” A carta pode ser vista no site da Stand Earth aqui, valendo ler aqui, também, para os comentários a seu respeito. A Business Green comentou a atuação da TSVCM dizendo que uma atuação fraca acabaria com as chances de se limitar o aquecimento global a 1,5°C.

A liberal Economist defende uma atuação firme dos governos para colocar um preço – alto – nas emissões na forma de uma taxação global do carbono, pois “é muita ingenuidade pensar que o altruísmo seja suficiente para convencer as empresas a agir [para reduzir suas emissões].” A revista também produziu um vídeo sobre mercados de carbono. É muito recomendável para aqueles que estão divulgando o sonho de vender bilhões de dólares em créditos de carbono. A matéria nem sequer menciona esses créditos. Diz que um mercado de carbono é baseado no cap-and-trade, em que o volume de permissões é reduzido gradualmente e a multa por não cumprimento de obrigações é cada vez mais alta. A crítica que é feita é que os mercados existentes são poucos e frouxos e nem arranham o aquecimento global.

Vale lembrar que, na semana passada, nós comentamos um relatório do Fundo Monetário Internacional dizendo que a indústria fóssil recebeu de governos subsídios que somaram quase US$6 trilhões no ano passado. A exploração de fósseis continuará se expandindo enquanto esses subsídios a permitirem.

 

ClimaInfo, 13 de outubro de 2021.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.