A desigualdade e os “pontos cegos” da ciência climática mundo afora

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A ciência do clima avançou notavelmente nas últimas décadas, beneficiada pela maior atenção pública ao tema e pela inclusão de diferentes campos analíticos no estudo sobre a mudança do clima e seus efeitos políticos, econômicos, sociais, culturais, etc. No entanto, como acontece com a ciência em geral, ela ainda se concentra em instituições acadêmicas e centros de pesquisas no Norte Global, em detrimento das áreas mais pobres (e mais vulneráveis à crise climática) do mundo.

Um estudo divulgado nesta semana na Nature Climate Change fez um mapeamento de mais de 100 mil pesquisas em bases internacionais de produção científica para identificar análises específicas sobre os efeitos da mudança do clima nas regiões do globo. O resultado não surpreende, mas preocupa: em pelo menos 1/3 da área terrestre, onde vive 11% da população mundial, os estudos climáticos são pouco numerosos e/ou possuem níveis considerados pouco robustos ou baixos de pesquisa.

Ou seja, existe uma lacuna importante no conhecimento sobre os impactos da mudança do clima em muitas das áreas mais vulneráveis a esse processo. Na África, por exemplo, foram identificados 7,57 mil estudos, um número pequeno quando comparado com os cerca de 60 mil observados na América do Norte e Ásia e os 17,7 mil na Europa. Pior que isso, só a América do Sul, onde 4,7 mil estudos foram identificados.

“Os fluxos de financiamento internacional [para pesquisa] precisam ir para lugares onde as mudanças estão acontecendo e tendo maior impacto”, defendeu Max Callaghan, pesquisador do Mercator Research Institute on Global Commons and Climate Change (Alemanha), à Folha. CNN e Carbon Brief também destacaram as conclusões do estudo.

Em tempo: Um dos pioneiros da ciência de atribuição climática, o pesquisador holandês Geert Jan van Oldenborgh morreu aos 59 anos na semana passada, vítima de câncer. Van Oldenborgh encabeçou a World Weather Attribution, uma rede internacional de cientistas que explora e evidencia as conexões entre eventos meteorológicos específicos e a mudança do clima. No mês passado, Van Oldenborgh e sua colega, Friederike Otto, foram reconhecidos pela revista TIME na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2021. A notícia é da Associated Press.

 

ClimaInfo, 15 de outubro de 2021.

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