Amazônia: entre a bioeconomia e a boieconomia

Boieconomia

O Fórum Mundial da Bioeconomia terminou na 4ª feira (20/10) com uma declaração e o compromisso do governo paraense de elaborar um Plano Estadual de Bioeconomia para, segundo Mauro O’de Almeida, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, “receber investimentos, para interconectar pessoas e instituições, fazer parcerias público-privadas e implementar políticas públicas voltadas à política social e ao clima”. Apesar disso, o que se vê é um apoio cada vez maior à “boieconomia”, termo usado pela Página 22. A pecuária extensiva é, segundo a matéria, responsável por mais de 80% do desmatamento da Amazônia. A boieconomia “se viabiliza de diferentes formas: invadindo terras públicas (grilagem), inviabilizando assentamentos que deveriam ser para a agricultura familiar em sistemas agroflorestais; ela ‘compra’ áreas de governos estaduais e federais para destruí-las e se tornarem pasto; ‘esquenta’ títulos em cartório etc.”

O nexo desmatamento-pecuária-extensiva leva a uma projeção assustadora. O pessoal do Joio e o Trigo fez as contas: a menos que se reverta rapidamente a prática atual de largar o boi no pasto até ele engordar, o crescimento entre 1,4% e 2,4% até 2030 projetado pelo ministério da agricultura exigirá que se mantenha o ritmo atual de desmatar 10.000 km2 por ano, ou 1 milhão de hectares.

Pelo jeito, recursos para bancar esta expansão não faltam. Um levantamento da Global Witness contabilizou que bancos e investidores receberam quase US$ 2 bilhões em dividendos desde 2016, fruto de operações que somaram mais que US$ 150 bilhões, feitas com corporações do agronegócio associadas ao desmatamento e a violações dos Direitos Humanos em todo o mundo. Foi dado destaque para 20 corporações do agro com sedes na Europa, Reino Unido, EUA e na China. O Financial Times comentou o trabalho.

Um grupo de cerca de 200 organizações da sociedade civil daqui e de fora soltaram uma carta endereçada ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pedindo a revisão de um empréstimo concedido à Marfrig pelo risco de provocar mais desmatamento. A notícia é do Valor. Mais detalhes no site do ClimaInfo.

Esta notícia vem na esteira de uma investigação da Repórter Brasil que levantou os empréstimos do BNDES a frigoríficos que compraram gado de fazendas embargadas pelo IBAMA por desmatamento, invasão de Terras Indígenas e Unidades de Conservação, e que empregam mão de obra em regime análogo à escravidão. As normas do banco proíbem operações com frigoríficos que recebem gado de fazendas irregulares. O Banco prometeu investigar. Vale ler a continuação da história na própria Repórter Brasil. O UOL reproduziu este último artigo.

Em tempo 1: A Reuters deu uma longa matéria sobre o desmatamento na Amazônia e o quão perto se está do tipping point do bioma. Paulo Brando, do IPAM, disse saber “que há um penhasco ali na frente e, mesmo que não saibamos ao certo onde ele está, precisamos desacelerar. Ao invés disso, estamos correndo para ele com os olhos fechados”.

Em tempo 2: Ontem (21/10), o Consórcio de Governadores da Amazônia Legal pediu apoio ao ministro do meio ambiente, Joaquim Leite, para entrar na Coalizão Reduzindo Emissões pela Aceleração do Financiamento Florestal (Leaf, na sigla em inglês). A expectativa é de que o apoio federal traga mais credibilidade em relação aos mecanismos internacionais de financiamento. A notícia é do Estadão.

 

ClimaInfo, 22 de outubro de 2021.

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