Não haverá neutralidade climática duradoura enquanto houver queima de fósseis

queima combustíveis fósseis

Desde 2015, quando o Acordo de Paris foi assinado, os negócios dos grandes bancos mundiais com o setor fóssil somaram quase US$4 trilhões. Segundo a Bloomberg, foram operações de empréstimos e emissão de títulos pelas quais faturaram US$17 bilhões em comissões.

Conter o aquecimento global significa parar de queimar combustíveis fósseis, sua maior causa. A expressão “transição para uma economia de baixo carbono” peca por não definir quando ela termina. Assim como os compromissos de net zero com datas posteriores à vida útil de quem as assume.

O pessoal do Carbon Market Watch analisou os recentes compromissos de cargas de combustíveis fósseis sendo vendidas acompanhadas de créditos de carbono para compensar a emissão de sua queima. Shell, BP e Total, dentre outras, “esperam que o mundo exterior engula sem questionar que sua produção e queima contínua de combustíveis fósseis seja compatível com o clima, desde que se escondam atrás de uma folha de parreira escrita ‘carbono neutro’”.

Por outro lado, não fazer nada certamente sairá mais caro do que uma transição real para o net zero. A Reuters consultou um grupo de economistas climáticos que estimam que um net zero sério custará de 2% a 3% da produção mundial, daqui até 2050. Eles partiram da premissa de que a ajuda climática dos países ricos aconteceria e que o preço global da tonelada de carbono ficaria em torno de US$100, algo como 25% acima do praticado na Europa. Para comparação, a pandemia já custou aos governos mais de 10% da produção global. E, se nada for feito, esta sofrerá uma perda de 2,4% nesta década, 10% até 2050 e quase 20% até o final do século. A Folha traduziu o artigo.

Muitas vezes, ficar preso apenas nos números climáticos esconde a ferida da desigualdade socioeconômica no mundo todo. No recente Fórum de Sustentabilidade do BNDES, Tania Cosentino, presidente da Microsoft brasileira, chamou a atenção para se considerar também os déficits do país em serviços básicos, como saneamento e transporte, e não apenas as metas climáticas, reporta Gabriel Vasconcelos no Valor. Natalie Unterstell, do Talanoa, emendou dizendo que “se vamos participar [dessa transição mundial] como líderes ou lanterninhas, isso vai depender da estratégia” envolvendo bem mais que só o governo.

Em tempo: Amanhã começa o encontro do G20 e, no sábado, a COP26. A ciência repete constantemente o aviso de que a janela de oportunidade para reduzir os impactos da crise climática está se fechando. Francesco La Camera, diretor geral da IRENA (Agência Internacional para as Energias Renováveis), no lançamento da campanha “Nosso futuro – A escolha é sua”, disse que “nossas opções são simples – fazer escolhas seguras que nos levam à incerteza, ou as escolhas ousadas que oferecem resultados universalmente positivos. O mundo precisa de líderes”. O vídeo da campanha pode ser visto aqui. A Reuters comentou.

 

ClimaInfo, 28 de outubro de 2021.

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