A confusão em torno de mercados de carbono, Artigo 6 e compromissos de net zero

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As negociações em torno do Artigo 6, o dos mecanismos de mercado, seguem cheias de pontos de discórdia. O ministro do Meio Ambiente da Noruega, Espen Eide, reconhece as dificuldades, mas permanece otimista. Segundo a Reuters, ele comentou que “em nome da credibilidade desta série de COPs, não dá para continuar [com essas negociações] para sempre”. A Bloomberg comenta que os negociadores se preparam para varar noites tentando fechar o texto final. A matéria fala de um ponto importante: recursos que sairiam da venda dos créditos de carbono para apoiar as atividades de adaptação nos países mais pobres. Discute-se desde o volume de recursos até a governança da sua aplicação. O outro ponto da Bloomberg é a expectativa da criação de mercados globais de carbono. O Artigo 6 fala de colaboração voluntária entre países e, portanto, ele não poderia obrigar país ou bloco algum a comprar os créditos de carbono.

Aliás, a Reset fez uma matéria a esse respeito, mais um que cita o Brasil como tendo um “enorme potencial de gerar créditos de carbono de base florestal ou de energias limpas”. O “enorme” depende da demanda e poucos se atrevem a analisar que seriam os compradores. Quanto à energia limpa, pela queda dos preços das eólicas e placas solares, as principais certificadoras do mercado voluntário deixaram de aceitar esse tipo de projeto há muito tempo.

Junto com a enxurrada de promessas de bilhões em compromissos verdes, vem a preocupação de que sejam para inglês ver ou, no jargão, simples greenwashing. Erik Thedéen, diretor da  Organização Internacional de Valores Mobiliários (IOSCO, International Organization of Securities Commissions) explica que o “greenwashing pode danificar a credibilidade do movimento de finanças verdes e colocar em risco os esforços para limitar o aumento da temperatura global em 1,5oC”. A matéria do Financial Times fala dos desafios e resistências enfrentados por reguladores ao impor regras que coíbam falsidades.

Um exemplo concreto acontece no RenovaBio, que gera créditos de intensidade de emissões para produtores de biocombustíveis. O caso do biodiesel de gordura animal virou matéria da Repórter Brasil. A intenção do RenovaBio é contabilizar tudo que se emite para produzir o combustível, começando nas fazendas até o portão do distribuidor. Exceto para a gordura animal. Como ele é considerado um resíduo da fabricação de carne, o RenovaBio desconsidera todo o metano arrotado pelo gado até virar sebo. Pior é que o RenovaBio também não exige que o gado seja livre de desmatamento, algo rigorosamente auditado para a produção de cana e soja. Assim, o crédito do RenovaBio, que o ministro Bento glorificou em Glasgow na semana passada, tem essas emissões não contabilizadas. Estima-se que a JBS e a Minerva tenham ganho cerca de meio milhão de CBios no ano passado. A ver se o compromisso com a redução de metano ao qual o Brasil aderiu mudará a regra do RenovaBio para consertar essa brecha. O UOL também publicou a matéria.

Em tempo: Com todo o barulho em torno da intenção das grandes petroleiras em compensar as emissões dos seus produtos, o setor aqui no Brasil acaba de entrar no jardim de infância do mundo climático. Ontem, executivos do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) disseram ao Valor que irão trabalhar para fazer um inventário das emissões do setor a partir de dados coletados das empresas. Estamos em 2021, na 26ª reunião da COP e o setor responsável por 75% das emissões globais diz com o peito estufado, que pretende fazer, até o fim do ano, uma “primeira depuração” sobre as emissões da indústria petrolífera.

 

ClimaInfo, 9 de novembro de 2021.

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