Greenwashing é o novo negacionismo climático, alerta uma das principais negociadoras do Acordo de Paris

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Glasgow viu neste final de semana manifestações de centenas de milhares de pessoas exigindo respeito e seriedade dos “mil e um” compromissos assinados por países, blocos empresariais e corporações. Bem alinhada com este sentimento, a principal negociadora francesa em 2015, Laurence Tubiana, entende que o negacionismo climático teve que mudar de narrativa e seus proponentes deixaram de insistir em dizer que o clima não mudou ou que sempre mudou. Ao contrário, pegaram baldes de tinta verde para prometer mundos e sair de fininho com os fundos.

Segundo o Observatório do Clima, ela disse que “o greenwashing é o novo negacionismo climático” e deu, como exemplo, os australianos que “prometem maravilhas para 2050, mas não querem falar do que podem reduzir (de emissões) no ano que vem”. Ela se juntou a outras 250 personalidades e enviou uma carta à presidência da COP pedindo medidas contra a difusão de notícias falsas e distorcidas.

A Climate Change News traz a palavra de Manuel Pulgar-Vidal, peruano que presidiu a COP que precedeu Paris e que também assinou a carta. Ele disse que “a desinformação ameaça o avanço da luta climática ao minar a confiança do público e o apoio à ação urgente necessária para limitar o aquecimento global a 1,5°C (…) A COP26 precisa conseguir compromissos dos governos no sentido de tomar medidas reais para combater afirmações falaciosas sobre o clima.”

Cientistas ouvidos pela BBC expressam uma preocupação parecida. Eles esperam que o mundo todo assuma o compromisso de zerar as emissões líquidas até o meio do século e, para isso, é preciso parar imediatamente todo e qualquer investimento em fósseis, do carvão ao gás natural.

Brenda Brito, no PlenaMata, escreve sobre o provável golpe que o governo brasileiro está aplicando na COP e no mundo. Por exemplo, assumir o compromisso de zerar o desmatamento ilegal pode ser facilmente atingido mudando a lei que define o que é ou não ilegal. Ela lembra que o projeto de lei afrouxando a regularização fundiária para beneficiar a grilagem de terras públicas está prestes a ser votado no plenário do Senado. Como a grilagem é o passo inicial para a expansão de pastagens, essa mesma votação coloca em xeque o compromisso que o governo assumiu para reduzir as emissões de metano.

Em tempo: Como pegar uma empresa “greenwashando”? Beth Timmins, na BBC, dá dicas bem humoradas usando exemplos concretos.

 

ClimaInfo, 10 de novembro de 2021.

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