Mesmo com número recorde na COP26, Brasil deixa sociedade civil de fora da delegação oficial

Brasil COP26

Com quase 480 membros, a delegação brasileira na COP26 não deu qualquer espaço para representação de organizações da sociedade civil, da juventude, de indígenas ou de cientistas. Em compensação, sobraram crachás para lobistas corporativos, representantes do agronegócio e até primeiras-damas de prefeituras e governos estaduais.

A Folha destacou o contraste da representatividade da sociedade brasileira na COP, que se reflete também nos espaços oficiais do país em Glasgow. Por um lado, o governo brasileiro patrocinou um pavilhão de grande porte, com decoração caprichada, mas com programação pouco atraente para o público em geral. Por outro, o estande do Brazil Climate Action Hub, montado pela sociedade civil para contrapor o discurso “verde” do governo na COP, é menor, mas tem muito mais audiência e atenção do público.

Alheio a tudo isso, o negociador-chefe do Brasil em Glasgow, embaixador Paulino de Carvalho Neto, celebrou na Folha a “recuperação do terreno perdido” pelo país nas negociações climáticas. Por outro lado, quando questionado pela falta de representatividade democrática da delegação brasileira na COP, ele tergiversou e disse que a representação oficial do Brasil na Conferência “não pode incluir representantes que não são do governo” – à despeito da delegação ter dezenas de membros não-governamentais em sua lista, representando a iniciativa privada e o agronegócio.

Por falar em representatividade, os jovens do Engajamundo denunciaram a intimidação de membros do governo brasileiro durante um painel no pavilhão do país na COP26. Eles participaram de um painel e tentaram fazer questionamentos aos equívocos e desinformação de alguns de seus palestrantes. No entanto, o grupo foi silenciado pelos organizadores e não teve oportunidade para apresentar suas considerações. “O painel e o pavilhão inteiro do Brasil na COP26 têm sido um retrato bem alinhado com a realidade do governo: vendendo falsas promessas em uma imagem bonita”, destacou o Engajamundo no Twitter.

Em tempo 1: O governo Bolsonaro até tentou esconder, mas a primeira semana da COP26 deixou explícita a contrariedade do atual presidente com os Povos Indígenas. Depois de preferir passear na Itália ao invés de participar da abertura da COP, Bolsonaro criticou a jovem indígena Txai Suruí, quem discursou em defesa dos direitos indígenas no evento. Como resultado, Bolsonaro foi lembrado e “premiado” pela Climate Action Network (CAN) com o Fóssil da Semana. De toda maneira, como Bernardo Esteves destacou na piauí, os indígenas brasileiros na COP não têm medo de cara branca feia e fazem questão de contrapor o discurso oficial higienizado com a realidade de ataques cotidianos do governo federal contra as comunidades indígenas.

Em tempo 2: Já em Brasília, a PEC 37/2021, que quer incluir a garantia à segurança climática em três artigos estruturantes da Constituição Federal, começou a avançar no Congresso Nacional. Apresentada pela Frente Parlamentar Ambientalista, a proposta é mostrada como “a lei mais urgente do mundo”, já que sua inserção no texto constitucional abriria espaço para ações mais incisivas do poder público para facilitar a descarbonização da economia brasileira e preparar as comunidades mais vulneráveis aos efeitos da mudança do clima. Um Só Planeta destacou a notícia.

 

ClimaInfo, 9 de novembro de 2021.

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