Pobreza, falta de oportunidades e de fiscalização ambiental: a vida dos garimpeiros do rio Madeira

2 de dezembro de 2021

A mobilização massiva de garimpeiros no rio Madeira na altura do município de Autazes, no Amazonas, chamou a atenção de ribeirinhos que vivem há décadas na região. O garimpo em si não é uma novidade para eles, já que a passagem de balsas e dragas é comum na região. O que surpreendeu mesmo foi o tamanho da “Serra Pelada” fluvial montada sobre o rio e o esforço da Polícia Federal e da Marinha para desmobilizar o grupo.

No Estadão, André Borges conversou com ribeirinhos que testemunharam a ação dos garimpeiros e a reação do governo federal no Madeira. De uma certa forma, a reação deles é um reflexo da falta de oportunidades e da pobreza que marcam a vida dessas comunidades. Muitos demonstram simpatia com os garimpeiros e suas famílias e descontentamento com a destruição das balsas pela polícia. Ao mesmo tempo, por falta de informação, eles desconfiam daqueles que dizem que a atividade garimpeira pode causar problemas de saúde para a comunidade, especialmente por causa da contaminação da água do rio pelo mercúrio utilizado na operação.

Nesse sentido, um dos esforços da PF na ação antigarimpo foi exatamente obter amostras da água e dos moradores da região para estimar a quantidade de mercúrio no organismo das pessoas. “Vamos fazer essa perícia em toda a calha do rio Madeira, desde Humaitá até a foz. As pessoas precisam entender que o preço disso tudo pode sair caro demais no futuro, comprometendo não só o meio ambiente, mas a saúde da população”, explicou o superintendente da PF no Amazonas, Leandro Almada.

No entanto, a simpatia pelos garimpeiros não se restringe apenas aos ribeirinhos do Madeira. Nas prefeituras e Câmaras Municipais da região, o apoio político à causa garimpeira é grande, ao ponto de um grupo de políticos da região ter ido até Brasília nesta semana cobrar o fim da repressão ao garimpo. Mesmo no governo federal, é notória a posição de Bolsonaro em defesa da exploração de ouro na Amazônia, às favas com qualquer preocupação socioambiental.

“As balsas do rio Madeira mostraram o tamanho do prejuízo que os agrotrogloditas, piromaníacos e negacionistas estão impondo ao Brasil”, escreveu Elio Gaspari n’O Globo e na Folha. Ele cita os ataques contra agentes do IBAMA e da FUNAI na região do Madeira, que resultaram na intensificação de invasões de áreas protegidas e na explosão do garimpo. “Sempre aparecia alguém com argumentos marotos para defender a ação dos delinquentes. As balsas do rio Madeira e a articulação desse garimpo com a lavagem de dinheiro e o narcotráfico expuseram o resultado da ausência do Estado na região”.

Em tempo: Por falar em crime organizado, o deputado federal Bohn Gass (RS) apresentou na Câmara um projeto de decreto legislativo para cassar a autorização de exploração de lavra garimpeira concedida a dois associados ao narcotraficante Fernandinho Beira-Mar. De acordo com O Globo, o pedido visa retirar a autorização dada pela ANM a Silvio Berri Junior, acusado de transportar drogas em aeronaves para Beira-Mar nos anos 2000, e Heverton Soares, alvo da Operação Narcos Gold no mês passado, para explorar uma área de mais de 810 hectares de garimpo de ouro na Amazônia.

 

ClimaInfo, 2 de dezembro de 2021.

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