Madagascar, o retrato da injustiça climática

Madagascar ciclone Batsirai

Menos de três semanas depois do Ana, Madagascar foi atingida por um novo ciclone, o Batsirai. Há relatos de que aldeias inteiras foram quase totalmente destruídas. Até o momento foram contabilizados 55 mil desalojados e 20 mortes.

Além das perdas humanas e danos à infraestrutura e às edificações, os ciclones arrasaram as lavouras, o que agravará a escassez e consequente inflação dos alimentos. O Batsirai destruiu plantações de arroz que estavam a cerca de duas semanas da colheita. Culturas de frutas e vegetais também foram destruídas. O PIB per capita em Madagascar é inferior a US$ 500 por ano e um terço da população luta contra a escassez de alimentos.

Entre as culturas que foram danificadas pelos ciclones está a mais importante do país: a baunilha. Madagascar responde por 80% da produção mundial e, com isso, teve alguns anos de crescimento econômico após o aumento do valor da especiaria. Mas como se trata de uma orquídea que leva três anos para crescer, qualquer dano sofrido agora terá efeitos prolongados na economia. Em 2017, quando Madagascar foi atingido por Enawo, um ciclone semelhante em força a Ana e Batsirai, 30% da colheita de baunilha foi afetada.

Além da crise climática, a tragédia em Madagascar também evidencia outra crise: a da desigualdade social, que faz com que os países mais atingidos sejam geralmente os que menos fizeram para causar o aquecimento global.  E mostra porque é urgente implementar medidas de justiça climática, pelas quais países com altas emissões teriam que indenizar aqueles que estão arcando com as consequências. Cálculos da OXFAM indicam que os EUA, por exemplo, deveriam pagar US$ 2 trilhões a países que perdem recursos com as mudanças climáticas.

Reuters, BBC, RFi, Mongabay e Quartz trazem o retrato desta tragédia climática e humanitária.

Em tempo: Mais uma vez a Austrália se vê diante de incêndios florestais alarmantes que estão varrendo o oeste da ilha. Autoridades locais reconhecem que o fogo é turbinado pela crise climática. O Guardian e a australiana ABC trazem imagens e depoimentos.

 

ClimaInfo, 8 de fevereiro de 2022.

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