Reportagem exclusiva do Guardian assinada pelo editor de meio ambiente Damian Carrington, denunciou que, em plena pandemia, pelo menos 15 mil voos fantasmas – quase vazios ou com menos de 10% da capacidade ocupada – deixaram o Reino Unido entre março de 2020 e setembro de 2021.
Os dados são referentes a 32 aeroportos. Isso representa um escândalo diante da crise climática, uma vez que voar é uma das coisas mais carbono-intensivas que uma pessoa pode fazer. Não à toa, autoridades do governo britânico e as companhias aéreas tentaram de todas as formas esconder a informação sobre as ocupações de voos solicitada a elas pelo jornal. Os dados só foram liberados depois de serem formalmente requisitados pelo parlamento britânico, por meio do trabalhista Alex Sobel.
As companhias aéreas, então, questionaram as regras impostas ao setor, dizendo que estas estimulam voos com baixa ocupação. A companhia aérea alemã Lufthansa, por exemplo, alertou que teria de realizar 18 mil voos “desnecessários” até março para conseguir manter seus slots de pouso em aeroportos importantes. Pelas normas em vigência, se as empresas não operarem com a capacidade mínima exigida, correm o risco de perder os tão concorridos “slots” – cotas de espaços, horários e dias de voos nos aeroportos.
Durante os primeiros meses da pandemia, essa obrigatoriedade foi flexibilizada. Porém, as regras foram parcialmente retomadas em outubro, com 50% de obrigatoriedade, e deverão retornar à exigência de cumprimento de 70% dos voos previstos para que a empresa possa manter seus slots. A medida foi duramente criticada por ativistas que buscam reduzir os voos para combater a crise climática.
John Vidal, em sua coluna do Guardian, foi enfático ao dizer que o Reino Unido não conseguirá atingir o net-zero até 2050 se não endereçar a questão da aviação. “O governo subsidia a indústria (da aviação) com enormes incentivos fiscais. Enquanto o resto da indústria do Reino Unido ajudou a reduzir as emissões em cerca de 42% nos últimos anos, a aviação consegue dobrar suas próprias emissões”, denunciou.
Em tempo: Estudo recente sugere que a redução do número de voos para o enfrentamento da crise climática teria efeito positivo no mercado de trabalho, podendo criar 300 mil empregos a mais em viagens verdes do que o que poderia ser perdido com a redução dos voos. A pesquisa foi repercutida pelo Independent.
ClimaInfo, 23 de fevereiro de 2022.
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