O preço de referência do barril de petróleo passou dos US$ 114, o maior valor desde 2014, alimentado pela invasão da Ucrânia, informa o New York Times. As sanções e reações no mundo fóssil se multiplicam mais rapidamente do que as forças russas em terra. A dependência do petróleo russo, o 3º maior exportador do mundo, segue provocando abalos na economia globalizada.
Uma das vítimas do conflito já é a luta contra o aquecimento global. A economia do mundo desenvolvido depende de petróleo e gás, por mais que as promessas de transição sejam anunciadas. O conflito e sanções romperam os fluxos de gás e petróleo russos, empurrando países consumidores a buscar novos fornecedores, possivelmente a preços mais altos. Isso retira recursos que seriam usados na transição e tornam os investimentos em poços e infraestruturas atraentes outra vez. A guerra atrasará a transição energética e elevará a temperatura do mundo todo.
Empresas que exploram o fracking nos EUA evocam o fantasma russo e a segurança energética do país e do mundo para garantir que os atuais preços sigam altos. Um dos executivos comentou à New Republic, que “estes preços altos e a volatilidade estimulam ainda mais [a preocupação com] a segurança energética e [portanto] com contratos de longo prazo.”
O governo norte-americano reduziu o imposto federal sobre a gasolina, mas segundo o Washington Post, se a intenção foi boa, não há como garantir que aumentos futuros não sejam repassados ao consumidor. Diz um ditado de lá que a taxa de aprovação do governo cai quando o preço da gasolina sobe, e vice-versa.
Biden, em seu discurso sobre “O Estado da União”, gastou metade do tempo condenando Putin e a invasão e prometendo apoio à Ucrânia, enquanto seu Secretário de Estado, Anthony Blinken, embarcava numa viagem pelo leste europeu (Polônia, Moldávia, Latvia, Lituânia e Estônia) e para reuniões com a OTAN.
Ao longo do Carnaval, BP, Equinor e Shell anunciaram que sairão de consórcios de exploração de petróleo e gás na Rússia. A Exxon disse que sairia da exploração de Sakhalin-1, um campo que produz cerca de 250 mil barris por dia. A pressão cresce para cima da francesa Total e da japonesa Mitsui. Vale ver as matérias de CNN Brasil, Financial Times, New York Times, BBC e Reuters. Estas notícias precisam ser lidas com uma pitada de sal. Sair de um consórcio bilionário no meio das sanções financeiras é uma operação que tomará tempo.
A empresa responsável pela construção de um segundo conjunto de gasodutos ligando os campos russos com consumidores europeus, a Nordstream 2, pediu falência depois que o governo alemão suspendeu a autorização para o projeto. Aqui, a notícia saiu nos Poder 360, DW, UOL, dentre outras. Ontem à tarde, a InfoMoney disse que a empresa não tinha confirmado o pedido de falência, mas que tinha dispensado seus empregados devido aos “desdobramentos geopolíticos que levaram à imposição de sanções dos EUA à empresa.”
A Agência Internacional de Energia (IEA) fez um gesto simbólico ao anunciar que os países membros autorizaram a liberação de 60 milhões de barris de petróleo de suas reservas estratégicas como garantia ao mundo de que o petróleo russo não fará falta. Como a Rússia, antes da invasão, exportava cerca de 5 milhões de barris por dia, o gesto da IEA corresponde a cerca de somente 12 dias.
Mais relevante é a confusão em torno da OPEP+, grupo do qual a Rússia faz parte. Ontem de manhã, a Bloomberg dizia que o grupo havia prometido aumentar a produção para compensar a falta do petróleo russo. À tarde, o New York Times disse que eles tinham simplesmente confirmado o aumento de produção em abril, que haviam combinado de julho passado.
ClimaInfo, 3 de março de 2022.
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