Bolsonaro usa guerra na Ucrânia para defender mineração em Terras Indígenas

Bolsonaro Ucrânia

Enquanto a ministra Tereza Cristina tenta evitar o pânico no agronegócio declarando que é “muito cedo” para definir o impacto que o conflito entre Rússia e Ucrânia terá na importação de fertilizantes no Brasil, anunciando viagem ao Canadá para garantir suprimentos e lembrando que o Brasil tem estoques até outubro, o chefe dela faz o oposto: ontem (2/3) no Twitter Bolsonaro falou em risco de falta de potássio ou aumento do seu preço. O Valor repercutiu a postagem.

O recado tinha endereço certo – a bancada ruralista – pois na sequência ele usou o suposto risco como argumento para defender a aprovação pelo Congresso do projeto de lei 191/2020. Esse PL, que integra o Pacote da Destruição, facilita a mineração e a construção de barragens em Territórios Indígenas, mesmo sem aval dos Povos que as ocupam.

Como o WWF-Brasil explica, embora a tramitação deste PL dependa da instalação de comissão especial para sua apreciação e eventual aprovação, há a possibilidade de que manobras regimentais permitam sua votação diretamente no Plenário.

Além do apoio presidencial, o projeto conta com o lobby das mineradoras que, caso a indústria fosse séria, deveria condenar esta agenda que beneficia criminosos, como observou Cristina Serra na Folha.

Especialistas ouvidos pela Folha explicaram que apesar da possível existência de potássio na Amazônia ter sido registrada há décadas, o mineral se encontra em condições de difícil extração. Além do mais, a viabilização desse tipo de empreendimento demandaria, durante anos, grandes investimentos em extração e logística, o que provavelmente tornaria o potássio obtido na região mais caro do que o de competidores internacionais. Como lembrou Leonardo Sakamoto no UOL,  mesmo se o PL fosse aprovado agora, levaria anos para se explorar as jazidas que Bolsonaro alardeia na Amazônia.

Sobre aumento dos preços dos fertilizantes: a Bloomberg fala da nova cotação do nitrogênio, que subiu 25% em menos de uma semana, sinalizando para mais inflação de alimentos no futuro.

Em tempo 1: Não é só Bolsonaro que usa a guerra na Ucrânia para atacar os indígenas. Um artigo selecionado pelo Exército para informar a população sobre o conflito compara a crise que envolveu a anexação da região da Crimeia pela Rússia a uma suposta ameaça internacional para separar a Amazônia do Brasil. E prega que o Brasil “deve refutar qualquer pressão no sentido de reconhecer a autodeterminação de suas minorias indígenas, ou haverá o risco de no futuro uma potência apoiar um projeto de secessão em áreas de interesse geopolítico”. A notícia é do Guilherme Amado, do Metrópoles.

Em tempo 2: No podcast Cenários, a jornalista Sônia Racy conversou com Celso Lafer, ministro das Relações Exteriores de FHC, sobre como a questão ambiental está afetando a imagem internacional do Brasil.

 

ClimaInfo, 3 de março de 2022.

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