Mata Atlântica: florestas replantadas não são a mesma coisa que florestas preservadas

A devastação tem sido a regra no bioma da Mata Atlântica desde a chegada dos portugueses ao Brasil, há mais de cinco séculos. Nesse ínterim, a imponente floresta verde deu lugar a morros e vales desmatados, com fragmentos minúsculos de vegetação nativa ainda resistindo em pontos isolados da costa brasileira. No entanto, nos últimos anos, a recuperação de parte das áreas degradadas foi notável, com o replantio de espécies nativas. O problema é que, ao mesmo tempo em que partes da Mata Atlântica se recuperam, a devastação do pouco de vegetação nativa que sobrou segue impune e irrestrita.

Como explicou Elizabeth Oliveira no site ((o)) eco, uma coisa é você ter florestas recém-plantadas, que ainda estão em fase inicial de recuperação e que demorarão anos (ou décadas) para se firmar; outra coisa são florestas maduras, nativas, que existem há séculos (ou milênios). São mundos ecossistemicamente distintos, a despeito de serem o mesmo bioma. A capacidade de absorção do carbono, por exemplo, é muito menor em uma floresta mais jovem do que a de uma floresta madura. “Não podemos usar a restauração como justificativa para o desmatamento em nenhuma circunstância”, afirmou o professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, da Esalq-USP. “Nós estamos perdendo florestas com muito melhor qualidade do que as florestas que estão sendo restauradas”.

Em tempo: O desmatamento na Mata Atlântica atinge em cheio as espécies de fauna e flora características do bioma. Qualquer desequilíbrio causado pela derrubada da floresta pode resultar em um efeito cascata que, em última análise, pode condenar essas espécies à extinção. Um estudo recente publicado na revista Biotropica mostra como esse processo está acontecendo com uma espécie de árvore, a guapeva-vermelha: a reprodução da espécie depende do consumo de seu fruto por primatas como o bugio e o muriqui; com o avanço do desmatamento, esses animais estão entre os primeiros que desaparecem, o que acaba prejudicando a reprodução da guapeva-vermelha. A Agência FAPESP deu mais detalhes.

 

ClimaInfo, 16 de março de 2022.

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