Os governos levaram o puxão de orelha mais dolorido do novo relatório do IPCC, lançado nesta semana, mas não são os únicos “vilões” da inação global contra a crise climática. Mesmo com promessas e juras de ação climática, as empresas ainda não abandonaram totalmente o figurino bad boy e seguem se omitindo no esforço para controlar e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. No entanto, a conta de tamanha omissão começa a chegar no caixa dessas empresas – e, em alguns casos, de maneira repentina e devastadora.
“Os principais agentes de transformação [da economia] não estão fazendo o suficiente”, argumentou Leonardo Marques (UFRJ) para Naiara Bertão no Valor. “Muitas [empresas] estão adiando ao máximo o compromisso com redução de pegada de carbono e mudanças associadas ao impacto climático. A ciência está mostrando isso”. Isso já se reflete em questões corriqueiras, como a oferta de água: as mudanças do clima estão intensificando problemas de abastecimento hídrico, como observado diversas vezes em diferentes pontos do Brasil na última década.
“Deveríamos estar discutindo com muito mais propriedade e com o governo, o inventário e o controle de recursos [hídricos]”, disse Viviane Torinelli, da Fundação Dom Cabral. “Hoje, por exemplo, pagamos apenas pelo tratamento da água e não pelo uso em si. E um agravante é que a água também é a fonte de nossa principal matriz de produção energética. Com risco de falta de água, há risco de aumento no custo da energia também”. O Globo também publicou a matéria.
O atraso de governos e empresas na corrida pela descarbonização também arrisca perdermos possibilidades de novos negócios na transição energética para o carbono zero. O investimento imediato e sustentado na geração energética por fonte renovável não apenas pode compensar eventuais postos de trabalho perdidos na indústria fóssil, como pode gerar um saldo líquido de novos empregos no setor de energia como um todo, com ganhos de eficiência energética e de redução substancial de emissões de carbono. Mas, como o IPCC nos alertou, a janela de tempo para ação está se fechando – e, com ela, se vão também essas oportunidades.
Ainda sobre empresas e ação climática, o executivo Maurice Lévy, um dos nomes mais importantes da indústria publicitária global, conversou com o Valor sobre os caminhos da agenda ESG e as pressões crescentes que algumas organizações podem sofrer por conta do “descasamento” entre discurso e prática em seus negócios. “Não tenha dúvida, a adoção de um discurso verde descasado da realidade trará uma reação brutal e dolorosa para as empresas que não são sinceras”.
ClimaInfo, 7 de abril de 2022.
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