A crise energética global, precipitada pelo aumento nos preços internacionais dos combustíveis fósseis e intensificada com os reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia, está colocando o governo de Joe Biden nos Estados Unidos em uma posição delicada. Por um lado, a Casa Branca segue com o discurso de que o governo norte-americano está comprometido com a transição energética verde e a ação contra a mudança do clima. Por outro, a gasolina e o diesel mais caros pressionam a inflação doméstica e, com a demanda em alta, forçam a buscar novos caminhos para ampliar a oferta de energia fóssil no curto prazo.
Esse contraste ficou ainda mais evidente na semana passada, quando a Casa Branca deu OK para a retomada de novos projetos de exploração de petróleo e gás natural em terras públicas nos EUA. A suspensão desses projetos era uma promessa de campanha de Biden; no entanto, com a necessidade de aumentar a oferta de petróleo e aplacar a pressão inflacionária, o presidente foi forçado a abrir mão dela. Ainda assim, como a Bloomberg destacou, o governo definiu regras mais rígidas para aprovar esses projetos: além de reduzir a área total disponível para exploração, as empresas de energias terão que pagar royalties mais altos sobre o petróleo e o gás extraídos dessas terras.
Mas isso não foi suficiente para acalmar ativistas e ambientalistas, que criticaram duramente o governo norte-americano. “Este plano é um fracasso imprudente de liderança climática”, afirmou Randy Spivak, do Center for Biological Diversity. “É como se eles [governo] estivessem ignorando o horror das tempestades de fogo, inundações e megassecas, e aceitando as catástrofes climáticas como business-as-usual”. Associated Press, Financial Times, NY Times, Reuters, Wall Street Journal e Washington Post repercutiram a decisão da Casa Branca.
A situação nos EUA é apenas um exemplo de como a alta do petróleo e a guerra no Leste Europeu estão colocando em xeque o cronograma e o ritmo de transição energética em todo o mundo. Como Brian Eckhouse observou na Bloomberg, a resposta governamental à crise é ambígua. Os países estão claramente pisando no freio da adoção de fontes energéticas mais limpas no curto prazo, para evitar reflexos negativos sobre os estoques de energia fóssil disponíveis atualmente no mercado. Mas também estão buscando maneiras para impulsionar a eletrificação e diminuir a dependência de combustíveis fósseis e aumentar a independência energética. Na prática, esse paradoxo significa mais demora na adoção efetiva da energia renovável – o que representa um obstáculo importante para que o mundo consiga avançar com medidas imediatas de mitigação nesta década para viabilizar um limite de 1,5°C ao aquecimento médio da Terra até 2100.
ClimaInfo, 19 de abril de 2022.
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