Abandono do carvão vira calcanhar-de-Aquiles em negociações para a COP27

carvão COP27
Dimas Ardian/Bloomberg

Ainda faltam mais de seis meses para o começo da próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP27), que acontecerá em novembro na cidade egípcia de Sharm el-Sheik, mas os diplomatas já estão coçando a cabeça para entender como a guerra na Europa e a crise global no setor elétrico podem comprometer os esforços multilaterais para que os países abandonem o uso de carvão para geração de energia até o final desta década. Essa questão foi uma das mais delicadas da agenda de negociação na Conferência de Glasgow (COP26), mas que resultou em uma declaração inédita na qual os países concordaram em reduzir e eventualmente zerar o consumo de carvão para conter as emissões de gases de efeito estufa.

De acordo com a Bloomberg, países como EUA e Reino Unido, além da União Europeia, querem avançar com planos de apoio para facilitar a transição energética em nações em desenvolvimento que dependem do carvão para geração de energia, como é o caso de Índia, Indonésia e Vietnã. A ideia é oferecer a esses países o mesmo tipo de apoio anunciado no ano passado à África do Sul, que receberá US$ 8,5 bilhões para reduzir o consumo de carvão e impulsionar fontes renováveis de energia.

No entanto, a guerra afeta diretamente as perspectivas de um acordo até o final do ano. Em uma frente, norte-americanos e indonésios estão em uma queda-de-braço diplomática sobre a participação da Rússia na próxima reunião do G20, programada para novembro em Bali. Já a Índia está jogando com todas as cartas para aproveitar o “saldão” de petróleo e gás russos, distanciando-se das sanções internacionais contra Moscou sem melindrar os aliados nos EUA e na Europa. A maior chance de um acordo antes da COP27 é do Vietnã, que tem escapado por ora do tiroteio geopolítico.

Em tempo: O risco de que as promessas de Glasgow não cheguem inteiras à Sharm el-Sheik é grande, especialmente com os governos mais interessados em expandir a produção de combustíveis fósseis no curto prazo para aliviar os preços e conter a escalada inflacionária. “O que vimos até agora é pouco, muito pouco”, lamentou Niklas Höhne, criador do Climate Action Tracker, ao Washington Post. Em um tom menos pessimista, o presidente da COP26, Alok Sharma, ressaltou que a ação climática ainda está na ordem do dia dos países, mesmo que a guerra e a crise energética tenham bagunçado um pouco as coisas. O desafio está em manter o foco, mesmo com os problemas ao lado.

 

ClimaInfo, 3 de maio de 2022.

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