Pesquisadores descobrem “piscina de água” debaixo de plataforma de gelo na Antártica

piscina de água Antártica
Kerry Key, Lamont-Doherty Earth Observatory, Columbia University

Um estudo publicado na revista Science na semana passada trouxe um verdadeiro raio-X das redes de lagos e rios de água líquida que correm debaixo das grandes plataformas de gelo na Antártica Ocidental. A descoberta mostrou que o impacto da água derretida na base dessas estruturas pode ser muito maior do que o estimado até agora, e a interação entre o gelo e água líquida pode trazer implicações ainda desconhecidas sobre o ritmo de degelo no Polo Sul.

A água líquida é um ator importante no ciclo das grandes plataformas de gelo na Antártica. Ao longo do tempo, a água derretida entra no bloco congelado, lubrificando suas bases de cascalho e permitindo sua marcha em direção ao mar. Nos últimos anos, diversos estudos identificaram centenas de lagos e rios na base dessas estruturas, formados a partir da intensificação do calor nas regiões polares, um dos efeitos da mudança do clima. Porém, até pouco tempo atrás, os dados sobre essas redes de água líquida debaixo do gelo antártico eram escassos. É nesse ponto que o novo estudo traz sua principal contribuição, ao identificar as diversas redes de água líquida que se formaram na base das plataformas de gelo na Antártica Ocidental.

Os pesquisadores focaram esforços no Whillans Ice Stream, um dos “córregos” que alimentam a plataforma de gelo de Ross, a maior do mundo. Para conseguir um panorama das profundezas do gelo, eles utilizaram a técnica de imagem magnetotelúrica, que mede a penetração na Terra da energia eletromagnética natural no alto da atmosfera. Essa energia é conduzida em diferentes graus por gelo, sedimentos, água doce, salgada e rochas. A partir dessa “ressonância magnética” do gelo, os pesquisadores conseguiram esboçar os mapas da água líquida debaixo das plataformas de gelo.

O estudo revelou que, dependendo da localização, os sedimentos se estendem abaixo da base do gelo de meio quilômetro a quase dois quilômetros antes de atingir o leito rochoso, e esses sedimentos estão carregados com água líquida. A estimativa é de que, se tudo fosse extraído, seria possível formar uma coluna de água de 220 a 280 metros de altura, pelo menos 10 vezes mais do que nos sistemas hidrológicos rasos dentro e na base do gelo.

“A quantidade de água subterrânea que encontramos foi tão significativa que provavelmente influencia os processos do fluxo do gelo. Agora, temos que descobrir mais e entender como incorporar esses dados aos nossos modelos”, comentou Chloe Gustafson, pesquisadora da Universidade de Columbia (EUA), principal autora do estudo.

O estudo teve destaque em veículos como Axios, BBC, CNN, Independent, New Scientist e Wall Street Journal. Os autores também abordaram os principais pontos de sua análise no site The Conversation.

 

ClimaInfo, 10 de maio de 2022.

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