O paradoxo amazônico: como a destruição da floresta impulsiona a popularidade do presidente no Norte

Eleições 2022 Norte
EPA/JOEDSON ALVES

Na BBC Brasil, Nathalia Passarinho abordou aquilo que parece ser um paradoxo: a despeito de ser uma das áreas mais pobres do país e experimentar a destruição crescente da floresta amazônica, os eleitores da região Norte do Brasil estão mais predispostos a votar no atual presidente da República nas próximas eleições. O que explica isso?

Especialistas consultados pela reportagem assinalaram três razões principais. Primeiro, o apoio à política pró-armamentos do atual governo, uma questão importante em uma região marcada pela violência e pelo confronto armado. Segundo, o avanço das igrejas evangélicas nos estados amazônicos, o que facilita a disseminação de mensagens positivas sobre o presidente junto ao eleitorado nortista. E, terceiro, o alinhamento explícito do presidente com os grandes interesses do agronegócio, da mineração e da extração de madeira na Amazônia.

Esse alinhamento tem se refletido de diversas maneiras no governo federal, como no desmonte dos órgãos de fiscalização ambiental, no enfraquecimento da legislação de proteção do meio ambiente e nas diversas tentativas de legalizar o título de propriedade de terras griladas em áreas públicas e de proteção ambiental. “Você tem naquela região grandes plantações e há uma relação conflituosa entre os donos dessas terras, indígenas e ambientalistas”, comentou Maria do Socorro Braga, cientista política da UFSCar. “A defesa [do presidente] à regularização de Terras Públicas e à expansão do agronegócio na floresta atende a parte dos produtores”.

Outro ponto aqui é a falta de oportunidades econômicas no norte, que deixa as pessoas mais pobres mais próximas de atividades ilegais como o garimpo, que também tem sido defendido pelo governo. “Você tem uma população grande de pessoas que sofrem com a precariedade do acesso a mecanismos econômicos e que enxergam a apropriação de recursos da floresta como solução”, explicou Braga.

Em tempo: Uma análise da Climate Policy Initiative/CPI (PUC-Rio), junto com o projeto Amazônia 2030, apontou que a pavimentação da BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM), pode impactar mais de 300 mil km2 de floresta na Amazônia, uma área maior que a do estado de São Paulo. De acordo com a pesquisa, a rodovia deve prejudicar a condição da floresta em nove municípios do sul do Amazonas, com reflexos em quase 100 Terras Indígenas e Unidades de Conservação, além de 140 mil km2 de florestas públicas não-destinadas. Philippe Watanabe deu mais informações na Folha.

 

ClimaInfo, 13 de maio de 2022.

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