Kayapós denunciam inação da Polícia Federal contra garimpeiros invasores

Kayapós garimpo ilegal
Daniel Tiberio Luz/Associação Floresta Protegida

Nesta 3ª feira (24/5), novos detalhes sobre a crise na Terra Indígena Baú surgiram na imprensa. De acordo com O Globo, o grupo de índios Kayapós que deteve garimpeiros ilegais na semana passada no sul do Pará teve que alugar um avião monomotor para retirar os invasores da terra, já que a Polícia Federal não respondeu ao pedido de intervenção feito pela comunidade. 

“No dia 18 de maio, o grupo chegou ao Garimpo Pista Velha, onde flagrou nove invasores realizando atividades de exploração de ouro. Os indígenas detiveram os invasores garimpeiros e informaram, nos dias seguintes, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal. Após aguardar até o dia 21 sem que qualquer operação fosse realizada no local, os indígenas contrataram um avião monomotor para transportar os invasores até a cidade de Novo Progresso, onde foram soltos sem a adoção de qualquer medida pelas autoridades competentes”, afirmaram as organizações indigenistas do grupo Xingu Mais em carta ao MPF.

O principal temor dos Kayapós é de que outros garimpeiros e indígenas aliados a eles pudessem retaliar as aldeias contrárias ao garimpo, o que poderia causar um “derramamento de sangue”. Como em outras reservas indígenas na Amazônia, a Terra Baú sofre com o avanço do garimpo ilegal, que causa devastação florestal, contaminação do solo, da água e da comida com substâncias tóxicas e violência contra indígenas.

“Nos últimos anos, aumentou muito a pressão do kuben [homem branco] para entrar com garimpo. Nunca foi tão forte assim. Os madeireiros também voltaram. Os kuben vêm com força, fazem proposta, oferecem de tudo”, escreveu o líder Mebêngôkre-Kayapó Myrnho re Kayapó, com Felippe Aníbal, na revista piauí. “Dizem que acabou com tudo. O garimpo leva morte e destruição. Mas nós, os Mebêngôkre, estamos firmes. Não vamos deixar o garimpo entrar, porque ele mata o rio, traz doenças e tudo de ruim que tem no mundo dos kuben”.

Ainda sobre o garimpo, o g1 noticiou que garimpeiros na região da Terra Yanomami, em Roraima, estão promovendo bingos com premiação em ouro e até mesmo mulheres. “Na quina uma mulher, na quadra um relógio masculino”, diz a imagem que está sendo compartilhada por garimpeiros em grupos de WhatsApp. A premiação principal para quem fizer a cartela cheia é de 50 gramas de ouro, o que equivale a mais de R$ 14 mil, de acordo com o Banco Central.

Em tempo: Se depender da intelligentsia das Forças Armadas brasileiras, o garimpo será um caminho sem volta para a Floresta Amazônica e os Povos Indígenas que nela vivem. Nesta semana, organizações lideradas por militares da reserva divulgaram um “projeto de nação” para os próximos 13 anos, o “Brasil em 2035”. O texto tem tudo o que você pode imaginar de absurdo: desde o fim do SUS e da educação superior gratuita até papagaiadas importadas da extrema-direita norte-americana, como ações contra o “globalismo” e o “politicamente correto”. Mas o capítulo sobre a Amazônia é um conto de terror em si mesmo: curiosamente, os militares que tanto dizem se preocupar com o controle da floresta sequer piscam na hora de permitir a participação do capital estrangeiro nas atividades de mineração e exploração comercial amazônica. Congresso em Foco, ((o)) eco e Poder360 destacaram os absurdos defendidos pelos milicos.

 

ClimaInfo, 25 de maio de 2022.

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