ESG no divã: greenwashing ou confusão pura e simples?

ESG
Liesa Johannssen-Koppitz/Bloomberg

Dois acontecimentos agitaram o mundo do ESG nas últimas semanas. Primeiro, o Índice S&P Dow Jones 500, a referência mais importante para investimentos sustentáveis nos EUA, chocou Wall Street ao deixar de fora a Tesla, principal montadora de veículos elétricos do mundo. A decisão não desceu bem na garganta de seu polêmico dono, o bilionário Elon Musk, que acusou o debate sobre ESG de “fraude”. Já o 2o acontecimento foi a fala do chefe de investimentos responsáveis do HSBC, Stuart Kirk, que criticou a comunidade financeira internacional por se preocupar “demais” com a crise climática.

“Quando um ícone da energia verde é subitamente manchado e um chefe de investimento responsável minimiza o aquecimento global, algo não está certo. Certo? Talvez não”, assinalou Tim Quinson na Bloomberg. “Estes são, sem dúvida, exemplos perfeitos das ilusões (greenwashing?) cada vez mais perpetuadas por banqueiros, executivos de empresas e investidores que afirmam publicamente que se preocupam com o meio ambiente, a sociedade e a governança corporativa adequada”.

O texto ressaltou um problema persistente no debate sobre ESG: vende-se a agenda como uma garantia de que a empresa que segue estes critérios possui uma “ficha limpa” para o mercado financeiro. O problema é que, como o próprio S&P Dow Jones 500 mostrou, isso não é verdade: existe uma grande desconexão entre o discurso público, impulsionado pela publicidade, e a realidade dos investimentos ESG. O que explica, por exemplo, a Tesla ser excluída do índice e a ExxonMobil, suprassumo da economia fóssil, fazer parte do rol de investimentos “sustentáveis”? Ao mesmo tempo, de que adianta o HSBC afastar o executivo “sincerão” quando o banco segue oferecendo bilhões de dólares em serviços e créditos para a indústria fóssil?

Em suma, ficamos com a seguinte dúvida: essa bagunça é fruto de confusão pura e simples com uma agenda nova e desafiadora, ou será mais uma reencarnação do greenwashing velho de guerra?

 

ClimaInfo, 30 de maio de 2022.

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