“Petroleiras e os bancos que as financiam encostaram a Humanidade na parede”

Humanidade contra a parede
Mandel Ngan/AFP (Getty Images)

A frase do secretário-geral da ONU, António Guterres foi um pouco mais forte: petroleiras e bancos “have Humanity by the throat” (algo como “encostaram a Humanidade na parede”), segundo uma matéria do Guardian de 6ª feira (17/6). Guterres comparou o esforço das petroleiras para abafar a crise climática com os da indústria do tabaco para se dissociar dos cânceres provocados pelos seus produtos. Em fala ao Fórum Econômico Mundial, numa Davos virtual, Guterres disse que “nada poderia estar mais claro ou presente do que o perigo de expansão de combustíveis fósseis. Mesmo a curto prazo, os combustíveis fósseis não fazem sentido político ou econômico”.

Enquanto isso, a mesma matéria conta que o presidente Biden foi à Arábia Saudita pedir para a OPEP aumentar a produção para segurar o preço do barril e a inflação que virou global. Países da União Europeia estão investindo na exploração de gás natural na África e o governo de Boris Johnson está licenciando novos campos de gás no Mar do Norte.

Por conta do boicote europeu, os russos saíram a campo para vender seu petróleo e estão desbancando a Arábia Saudita como o maior fornecedor para a China. Em maio, os chineses compraram quase 30% mais petróleo russo do que tinham comprado em abril, algo da ordem de US$ 7,5 bilhões, segundo o Guardian. A pressão europeia por conta da invasão da Ucrânia está reaproximando os dois gigantes.

Uma das notas do Financial Times conta que o líder chinês Xi Jinping conversou com Putin e disse que a China está “disposta a continuar o apoio mútuo com a Rússia em questões relacionadas a soberania, segurança e questões de maior preocupação”.

Enquanto o cenário de curtíssimo prazo é nebuloso por conta das mudanças geopolíticas causadas pela invasão da Ucrânia, um olhar para anos vindouros mostra que o mundo ainda está se refazendo dos efeitos da pandemia de COVID-19 e do impacto profundo que esta teve sobre a economia global. A indústria do petróleo foi um dos setores econômicos mais atingidos, com profunda queda na demanda por combustíveis fósseis durante o período mais intenso da pandemia. Entretanto, há sinais de que a indústria petroleira esteja começando a se recuperar.

A Agência Internacional de Energia prevê que a demanda mundial de petróleo voltará aos níveis pré-pandêmicos até 2023, por conta da diminuição gradual das restrições de confinamento e do retorno gradual da atividade econômica. 

No entanto, a Agência aponta ainda alguns riscos que podem afetar esta recuperação. Um dos maiores riscos é a possibilidade de outra onda da pandemia, que pode levar à imposição de mais restrições, o que teria impacto na demanda de petróleo. Outro risco é a possibilidade da expansão da guerra na Ucrânia no sentido de uma guerra comercial global. Isto poderia levar a uma diminuição da atividade econômica que teria, também, impacto sobre a demanda de petróleo. O Financial Times também destacou o trabalho do IEA.

 

ClimaInfo, 21 de junho de 2022.

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