Nordeste: secas e desertificação com a emergência climática

Nesta aula, os professores Humberto Alves Barbosa e Catarina de Oliveira Buriti abordam os conceitos de seca e desertificação, bem como suas correlações com a emergência climática. Também apresentam perspectivas pelas quais esses assuntos devem ser abordados em coberturas jornalísticas sobre o semiárido brasileiro.

Destaques da aula:
  • A região do semiárido, no Nordeste brasileiro, é parte do bioma Caatinga e tem as secas como sua característica física e natural. 
  • Atualmente, cerca de 13% do território brasileiro sofre com a desertificação.
  • Existe monitoramento de secas no Nordeste há 170 anos. Neste período, foram registrados oito períodos de secas prolongadas, sendo o mais recente entre 2012 a 2017.
  • A seca ocorrida de 2012 a 2017 se destaca por sua duração prolongada e pelos impactos socioeconômicos e ambientais provocados.
  • Apesar da seca ser uma questão recorrente e amplamente registrada, os municípios do semiárido não têm planos de contingência como instrumento orientador para a prevenção e a mitigação dos resultados negativos.

A região do semiárido nordestino integra o bioma Caatinga e tem as secas como sua característica física e natural. A área abriga 65% das terras áridas, semiáridas e sub-úmidas do Brasil. Porém, as mudanças climáticas impactam o regime de secas e acirram a desertificação, processo definido como o empobrecimento e a perda de umidade do solo, até que ele adquira características semelhantes às de um deserto. 

Atualmente, cerca de 13% do território brasileiro sofre com a desertificação. O semiárido nordestino é uma das maiores áreas do mundo suscetíveis à desertificação, com extensão de 1,3 milhão de km² e população de 31 milhões de pessoas. A desertificação é um processo crescente, retroalimentado pela seca, mas que acontece todos os dias também por meio de práticas predatórias e de manejo inadequado do solo e dos recursos naturais que vão desde a derrubada da vegetação até a extração de areia e de argila.

Desde 1845, agências governamentais monitoram o ciclo de secas no Nordeste. Ao longo destes 170 anos, foram registrados oito períodos de secas prolongadas, tendo o mais recente ocorrido de 2012 a 2017. Essa última seca se destaca por sua duração prolongada e pelos impactos socioeconômicos e ambientais provocados – tais impactos merecem o interesse dos jornalistas. 

O semiárido brasileiro tem algumas áreas em que as chuvas variam de 100 a 300 milímetros por ano, e outras onde o volume de precipitação chega a 800 milímetros. O que caracteriza a seca meteorológica é estar abaixo da média anual dos últimos 30 anos.

Apesar de a seca ser uma questão recorrente e amplamente registrada, os municípios do semiárido não têm planos de contingência como instrumento orientador para a prevenção e a mitigação dos resultados negativos. Esse é um dos aspectos que demonstra a vulnerabilidade de governança que existe em relação ao tema. Faltam instituições fortes e capacitadas, que se dediquem a aprender com as experiências já vividas, e existe uma escassez de regulamentação e fiscalização, bem como de conhecimento científico gerado.

Saiba mais:

Livro
Um século de secas: por que as políticas hídricas não transformaram o semiárido brasileiro?” Por Catarina de Oliveira Buriti e Humberto Alves Barbosa, Editora Chiado
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Perfil dos Municípios Brasileiros 2018 IBGE
BBC
Mortes por chuvas em 2022 já superam ano passado inteiro
Clima Sem Fake
Desmatamento do Cerrado, com Isabel Figueiredo
Apagão de chuvas, verão de torneiras secas, com Américo Sampaio
Crise hídrica ou o novo normal?, com Samuel Barrêto
Entenda a crise hídrica no Brasil, com Paulo Artaxo
Aulas
Mapbiomas Caatinga, por Washington Rocha
Matopiba e a crise hídrica, por Ludmilla Rattis
Rio São Francisco e as mudanças climáticas, por Francisco Assis
Água e o Nordeste, por Samuel Barrêto

Sobre os professores:

Humberto Alves Barbosa é fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis – https://lapismet.com.br/), Barbosa é professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), desenvolveu projeto de pós-doutorado na University of Bergen (Noruega), possui doutorado em Solo, Água e Ciências Ambientais/Sensoriamento Remoto pela University of Arizona (Estados Unidos), é mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e graduou-se em Meteorologia pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Participa como autor de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), na área de degradação das terras e desertificação. Desde 2007, é responsável, no Brasil, pela implantação e operação do “Sistema EUMETCast”, uma tecnologia descentralizada de recepção de dados de satélites da Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos (EUMETSAT).

Catarina de Oliveira Buriti é jornalista e historiadora, possui doutorado em Recursos Naturais e mestrado em História. Divulgadora científica do Instituto Nacional do Semiárido (INSA/ MCTI), é cofundadora do Instituto Letras Ambientais (https://www.letrasambientais.org.br/), uma organização especializada em divulgar informações para inteligência climática e ambiental baseadas em dados de satélites.