Nordeste: entre a bonança dos ventos e a tragédia do clima extremo

Nordeste renováveis
Arte: Gabriela Güllich

O Nordeste tem aparecido no noticiário ambiental sob dois recortes nos últimos tempos. Por um lado, o grande potencial para geração de energia solar e eólica está transformando a região em uma das mais avançadas na transição energética para fontes renováveis no Brasil. Por outro, a repetição de eventos climáticos extremos, como as chuvas registradas na Bahia, em Pernambuco e Alagoas nos últimos meses, traz à tona a vulnerabilidade dessa mesma região às mudanças climáticas e à falta de preparo de seus municípios para eventos similares no futuro cada vez mais imediato. 

Pelo lado positivo da equação climática nordestina, Carolina Lisboa destacou no site ((o)) eco a expansão da geração eólica, que hoje representa cerca de 90% da capacidade instalada de todo o Brasil, com mais de 20 GW, o equivalente à capacidade inteira de Portugal em todas as fontes. Com a perspectiva de instalação de aerogeradores offshore nos próximos anos, ela pode crescer em 133 GW. Por conta desse potencial, o Nordeste também desponta como uma área prioritária para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde, a principal aposta do setor energético para acelerar a transição para fontes energéticas menos intensivas em carbono.

Ao mesmo tempo, a reportagem reconhece também os problemas que essa pujança pode trazer para os nordestinos. Isso já está sendo sentido em termos de impactos socioambientais negativos nos arredores de fazendas eólicas em operação em alguns estados da região. Por essa razão, e considerando o contexto socioeconômico do Nordeste, os novos projetos precisarão ter muito cuidado na análise de seus impactos para evitar que os erros da indústria da energia fóssil sejam repetidos pela indústria da energia renovável.

Já pelo lado negativo, as chuvas intensas que vêm castigando o Nordeste nos últimos meses deixam evidente a falta de preparo e de adaptação aos eventos climáticos extremos que estão se intensificando. No podcast Ao Ponto (Um Só Planeta/O Globo), o meteorologista Lincoln Muniz, do INPE, destacou um levantamento recente que mostrou como a mudança do clima já está interferindo no regime de chuvas da região, o que vem causando prejuízos humanos, econômicos e ambientais. O ponto central do estudo, reforçado pelo cientista, é de que o Brasil precisa avançar na agenda da adaptação para preparar melhor suas áreas urbanas, especialmente as comunidades mais pobres e vulneráveis.

Carolina Maria Cardoso Aires Lisboa elaborou esta matéria com uma bolsa de jornalismo fornecida pela parceria entre o ClimaInfo e a GIZ, agência de cooperação do governo alemão.

 

ClimaInfo, 8 de julho de 2022.

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