Biodiversidade: novo relatório desafia concepção de lucro econômico que desconsidera impacto ambiental

RONNY SEN POUR « LE MONDE »

Representantes de 139 países aprovaram no último sábado (9/7) um novo relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) que propõe uma revisão profunda na maneira como os atores políticos e econômicos enxergam o lucro e o crescimento econômico das nações e das empresas. O Relatório de Avaliação sobre os Diversos Valores e Valoração da Natureza defende que os tomadores de decisão coloquem a natureza como um fator-chave nas políticas de promoção do desenvolvimento econômico e organizacional.

“As decisões econômicas e políticas têm priorizado predominantemente certos valores da natureza, particularmente valores instrumentos da natureza baseada no mercado, como aqueles associados aos alimentos produzidos intensivamente. Embora muitas vezes privilegiados na formulação de políticas, esses valores de mercado não refletem adequadamente como as mudanças na natureza afetam a qualidade de vida das pessoas”, observa o relatório. “Além disso, a formulação de políticas ignora os muitos valores não comerciais associados às contribuições da natureza para as pessoas, como a regulação climática e a identidade cultural”.

O relatório faz um panorama de mais de 50 métodos e abordagens de avaliação valorativa da natureza e destaca que, em termos práticos, sobram possibilidades e caminhos e faltam vontade política. “O que está em falta é o uso de métodos de avaliação para combater as assimetrias de poder entre as partes interessadas e incorporar de forma transparente os diversos valores da natureza na formulação de políticas”, afirmou Unai Pascual (Espanha/Suíça), copresidente do grupo de trabalho que formulou o documento, junto com os cientistas Patricia Balvanera (México), Mike Christie (Reino Unido) e Brigitte Baptiste (Colômbia).

Este é o 2º relatório aprovado pelo IPBES na última semana. Na 6ª feira passada (8/7), o grupo publicou uma análise sobre o uso sustentável de espécies silvestres. O documento destacou como a intensificação da degradação ecossistêmica e da crise climática está colocando em risco a sobrevivência de cerca de 10 mil espécies da fauna e flora terrestres que estão na base das necessidades alimentares imediatas de mais de 2,4 bilhões de pessoas.

Associated Press, Guardian, Le Monde, Nature e Um Só Planeta, entre outros veículos, repercutiram o relatório.

 

ClimaInfo, 13 de julho de 2022.

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