Mundo entra mais cedo no “cheque especial” da natureza 

Dia de Sobrecarga da Terra 2022
Getty Images/EyeEm/Bernt Ove Moss

Passado o impacto da pandemia sobre a atividade econômica, o mundo voltou a trilhar o caminho da irresponsabilidade para com os recursos naturais da Terra. Ontem (28/7), a humanidade chegou ao Dia da Sobrecarga da Terra, data em que caímos no “cheque especial” da natureza. Ou seja, consumimos em quase sete meses o estoque de recursos naturais que deveriam ser gastos ao longo do ano inteiro de 2022.

Calculado pela Global Footprint Network (GFN) todos os anos, a data caiu em 2022 um dia antes da registrada no ano passado (29/7). Com exceção de 2020, quando o mundo experimentou as primeiras ondas da pandemia de COVID-19, o Dia da Sobrecarga tem caído cada vez mais cedo, o que explicita a insustentabilidade do consumo humano dos recursos da natureza. Isso já causa desequilíbrios, como a escassez de alimentos e de água, e pode causar outros problemas ambientais ao longo do tempo, além de intensificar problemas atuais como a crise climática.

A voracidade do consumo humano é tamanha que, considerando a capacidade de regeneração da natureza, a humanidade precisaria de 1,75 planetas Terra para dar conta do total de recursos a serem consumidos até o final deste ano. 

Ao mesmo tempo, esse consumo é bastante desigual: três bilhões de pessoas vivem em países que produzem menos alimentos do que consomem e geram menos renda do que a média mundial, o que deixa evidente o impacto da escassez de recursos nos países pobres.

O caminho para o reequilíbrio é longo, mas possível. Por exemplo, se o mundo cortar pela metade a quantidade de alimentos desperdiçados, o Dia da Sobrecarga aconteceria 13 dias depois do 28 de julho. Já a expansão da produção de energia por fonte eólica onshore poderia atrasar essa data em pelo menos 10 dias. Além disso, a replicação do modelo de mobilidade da Holanda, que emprega muitas bicicletas, ao redor do mundo poderia economizar nove dias de consumo de recursos naturais do planeta.

AFP, Deutsche Welle, Le Monde, RFI e Um Só Planeta, entre outros, repercutiram a notícia.

Em tempo: A Assembleia Geral da ONU aprovou ontem (28/7) uma resolução histórica reconhecendo como Direito Humano Universal um meio ambiente limpo, saudável e sustentável. O documento considera que a mudança do clima e a degradação ambiental são algumas das ameaças mais urgentes enfrentadas pelos seres humanos e pede aos governos que intensifiquem seus esforços para garantir o atendimento deste Direito Humano. Por ser uma resolução da Assembleia Geral, ela não cria uma obrigação legal, mas não deixa de ser uma sinalização importante para os países avançarem com leis e políticas voltadas à proteção ambiental e à ação climática. “Esta resolução transmite a mensagem de que ninguém pode tirar de nós a natureza ou o ar e água limpos, nem nos privar de um clima estável. Ao menos, não sem lutar por eles”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA).

 

ClimaInfo, 29 de julho de 2022.

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