Estudo: anos eleitorais potencializam desmatamento na Mata Atlântica

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Mata Atlântica

O MapBiomas realizou nesta 3ª feira (9/8) a cerimônia de entrega do 4º Prêmio MapBiomas, uma iniciativa que destaca estudos de relevância feitos a partir dos dados da plataforma de monitoramento espacial dos biomas brasileiros. A premiação reconheceu seis trabalhos em quatro categorias – geral, jovem, aplicações em políticas públicas e aplicações em negócios.

Um dos trabalhos premiados foi abordado por Emílio Sant’Anna no Estadão. Publicada na revista Conservation Letters em junho passado, a pesquisa encabeçada pela cientista Patrícia Ruggiero (USP) comparou os índices de desmatamento na Mata Atlântica com os diferentes ciclos eleitorais entre 1991 e 2014. Ela concluiu que, em anos com eleições para cargos federais e estaduais, a derrubada de floresta neste bioma aumenta, em média, 3.652 hectares em comparação com anos não-eleitorais. A destruição aumenta ainda mais em anos com eleições para cargos municipais, quando, em média, o desmatamento aumenta em 4.409 hectares.

Alguns fatores explicam esse comportamento. Em períodos eleitorais, a fiscalização ambiental costuma ser mais leniente, o que favorece a destruição florestal. Além disso, especialmente durante as eleições municipais, existe uma indisposição do poder público (especialmente no caso de candidatos à reeleição) em melindrar seu apoio com determinados grupos políticos e econômicos.

Já na Folha, Phillippe Watanabe tratou dos resultados do trabalho de conclusão de curso do biólogo Alexandre do Carmo (UFSCar), que analisou as diferenças de preservação das áreas de Mata Atlântica e de Cerrado no estado de São Paulo. O estudo reforçou a constatação de que o primeiro bioma recebe mais atenção e proteção do que o segundo, o que se reflete também nas zonas de amortecimento – áreas no entorno de Unidades de Conservação, que servem para “protegê-las” de pressões externas. As zonas de amortecimento no entorno das unidades paulistas de Cerrado são mais frágeis do que aquelas que protegem áreas de Mata Atlântica. Isso deixa as áreas de Cerrado mais expostas ao desmatamento e à incidência de incêndios florestais.

Outra análise, feita pelo pesquisador Bruno Antonio Manzolli, do Centro de Inteligência Territorial (CIT), teve destaque n’O Globo. O estudo analisou as áreas de garimpo identificadas nos processos minerários (PMs) citados na Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), uma taxa paga à União, comparando com os dados de desmatamento associado ao garimpo. De acordo com a análise, em 2020, mais da metade da área destinada ao garimpo de ouro no Brasil estava em regiões ilegais, sem título de exploração ou autorização da Agência Nacional de Mineração.

Em tempo: A liberação da licença prévia para as obras de reconstrução da BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), segue dando o que falar. Na Folha, Vinicius Sassine revelou pareceres do próprio IBAMA que indicam o risco de aumento da grilagem de Terras Públicas no curso da rodovia em caso de pavimentação, o que pode acontecer mesmo com a implementação de medidas de mitigação de impacto. Os documentos também apontam para a possibilidade de aumento do desmatamento nessas áreas, principalmente pela exploração ilegal de madeira.

 

ClimaInfo, 11 de agosto de 2022.

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