
A pequena vila canadense de Lytton ganhou no ano passado os noticiários internacionais depois de ser parcialmente destruída por um megaincêndio na província da Colúmbia Britânica. Na mesma época, a cidade também garantiu o recorde incômodo de ter registrado a temperatura mais alta da história do Canadá. Um ano depois, o cenário é bem mais aprazível, mas as marcas da destruição seguem assombrando seus moradores: mais do que a destruição, a perspectiva de sofrer novamente com um episódio semelhante é assustadora.
A sensação é a mesma em outras áreas afetadas pelo calor intenso e pelo fogo no verão do ano passado. Para buscar alguma compensação e pressionar a indústria petroleira canadense, uma das mais fortes da economia do país, a câmara municipal de Vancouver entrou com medidas preliminares na justiça para responsabilizar o setor pelos impactos do clima extremo.
“Não podemos fazer as mudanças dramáticas que a sociedade precisa para lidar com as mudanças climáticas enquanto a indústria global de combustíveis fósseis lucra centenas de bilhões, trilhões de dólares, vendendo os mesmos produtos que estão causando o problema”, disse ao NY Times Andrew Gage, advogado de uma campanha de ativistas em favor da litigância climática.
A responsabilização é importante, mas a questão financeira é tão relevante quanto. No caso da Colúmbia Britânica, as autoridades da província querem investir mais de US$ 400 milhões nos próximos três anos com medidas de adaptação. Em todo o Canadá, estudos indicam que cerca de US$ 4,1 bilhões devem ser gastos anualmente para efetivamente preparar o país para os extremos climáticos de hoje e de amanhã.
Se nem uma das províncias mais ricas do Canadá, um dos países mais ricos do mundo, tem condições efetivas de financiar o custo da adaptação, imagine o caso das nações mais pobres do planeta, que experimentam o mesmo clima extremo sem apoio significativo do mundo desenvolvido.
Em tempo: O podcast A Terra é redonda (mesmo), da revista piauí, abordou a questão da justiça climática e das desigualdades que a crise do clima exacerba e perpetua. No 3º episódio desta temporada, especialistas e ativistas discutem os extremos climáticos à luz do conceito de racismo ambiental, que mostra como a cor da pele de um indivíduo determina sua vulnerabilidade a esses eventos.
ClimaInfo, 1º de setembro de 2022.
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