Governo quer esconder desmatamento em pavilhão oficial na COP27

COP27 Brasil stand governo
Reprodução Twitter

Nem um nem dois, a Conferência do Clima de Sharm El-Sheikh (COP27) contará com três espaços brasileiros: um pavilhão do governo federal, um dos governos dos estados da Amazônia e outro da sociedade civil.

Não espere muita coisa sobre florestas e desmatamento no espaço oficial: como apontou a agência Pública, o foco do governo será cantar em verso e prosa o potencial do país para geração de energia renovável em seu pavilhão.

“Vai ser exatamente um estande sobre o aspecto em que o Brasil não tem problema de emissões [de gases de efeito estufa]”, assinalou a ex-ministra Izabella Teixeira, que participará da COP27 como conselheira da presidência do encontro. “O Brasil deveria estar indo lá, em vez de esconder as florestas, revelar como de fato vai acabar com o desmatamento”.

O governo Bolsonaro tem uma relação conflituosa com as COPs. Em 2019, o Brasil era anfitrião da COP25, mas o desinteresse explícito do presidente fez com que o país abrisse mão dessa responsabilidade, como um “cartão de visitas” do descalabro que estava por vir.

A coisa foi tão esculachada que, ao final, o Brasil sequer montou um pavilhão nacional na COP de Madri naquele ano, o que motivou a criação do primeiro estande da sociedade civil brasileira para compensar a ausência do governo. 

Agora, o governo prepara até uma campanha publicitária para destacar o “potencial de energia verde” do Brasil na COP egípcia. Nesta semana, o ministro Joaquim Leite publicou um vídeo com narração em inglês adiantando a mensagem, com direito a uma criança branca sorridente segurando a bandeira brasileira em uma duna.

O pavilhão da sociedade civil brasileira na COP27 pretende “expandir horizontes, tecer diálogos e buscar sinergias com outros países do chamado Sul Global”, com a justificativa da emergência climática não possuir fronteiras, e a urgência por ações concretas, certeiras e propositivas está batendo à nossa porta”. A programação do pavilhão estará disponível já na próxima semana no site do Brazil Climate Action Hub.

Finalmente, o pavilhão dos governos dos estados da Amazônia terá como objetivo “discutir ações de combate a desmatamento e queimadas e iniciativas de desenvolvimento de baixa emissão de carbono. A intenção é ter reuniões com financiadores estrangeiros. Uma das tentativas será buscar reabrir o Fundo Amazônia”, conforme relatou Daniela Chiaretti no Valor.

Ainda sobre a COP27, Caroline Prolo escreveu no mesmo Valor sobre as perspectivas da Conferência de Sharm El-Sheikh para a implementação dos mercados de carbono sob o Acordo de Paris: “Ainda que as regras básicas tenham sido definidas em Glasgow [COP26], agora é necessário desenhar os fluxos, procedimentos e a infraestrutura em que esse sistema vai operar. Mas para além do artigo 6 do Acordo de Paris, a COP27 no Egito deve reunir muitos atores privados e trazer boas discussões sobre o mercado de carbono voluntário e mercados compliance no mundo”.

Em tempo: O contexto econômico mundial atual indica um cenário difícil para o comércio internacional. A somatória de pandemia, crises econômicas e tensões políticas domésticas ainda aponta para um maior protecionismo – e o Brasil está exposto como poucos, especialmente pelos escorregões na agenda ambiental. Medidas recentes como a restrição da União Europeia à importação de commodities associadas ao desmatamento reforçam esse risco. Para piorar, o país não responde com seriedade a essas críticas, preferindo se manter no argumento “é tudo intriga da oposição”, sem reconhecer o impacto do descontrole ambiental sobre a posição comercial do país no mercado internacional. “O próximo governo, qualquer que seja, terá de reverter as políticas contrárias ao interesse nacional que levaram ao desaparelhamento das agências de proteção ambiental e evidenciaram a falta de compromisso do nosso governo com a redução do desmatamento”, escreveu o ex-ministro Sergio Amaral no Estadão. “Caso contrário, as exportações brasileiras, sobretudo do agronegócio, serão penalizadas em alguns dos mais importantes mercados importadores”.

 

ClimaInfo, 28 de outubro de 2022.

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