Em “canto do cisne” bolsonarista, Leite mistura alhos e bugalhos em discurso na COP27

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Reprodução vídeo UNFCC

Poucos prestaram atenção, mas o ministro do meio ambiente Joaquim Leite discursou nesta 3ª feira (15/11) no segmento ministerial da COP27. Leite, que chefia a delegação brasileira em Sharm el-Sheikh, fez uma fala “agressiva e confusa”, como bem destacou o Valor: ao invés de apontar o posicionamento do Brasil nos principais pontos da negociação, o ministro incorporou o espírito do (ainda) presidente Jair Bolsonaro para distribuir recalque sem pé nem cabeça.

Um exemplo é a crítica de Leite aos “filantropos, líderes e empresários” por viajarem ao Egito de jatos particulares “para cobrar metas de redução de emissões dos outros, sugerindo carros ultramodernos a hidrogênio ou 100% elétricos, completamente desconexos da realidade de diversas regiões do Brasil e do mundo”. O ministro não se tocou que o Brasil possui a 2ª maior representação oficial nesta COP, com mais de 500 pessoas, sendo uma parcela substancial dela – secretários, governadores, prefeitos, deputados, senadores, e inúmeros “outros” – devidamente financiada pelos cofres públicos.

Leite também viajou na maionese ao ignorar a magnum opus da era Bolsonaro para a questão ambiental: a explosão do desmatamento. Sem citar a escalada da destruição, o desmonte dos órgãos de fiscalização, o estrangulamento orçamentário e o discurso leniente do próprio presidente, o ministro celebrou o fato de o governo ter implementado “políticas junto com o setor privado para dar escala a uma nova economia verde com objetivo de neutralidade climática até 2050”. Oi??

Capital Reset, CNN Brasil, Estadão, g1, ((o)) eco e Valor destacaram a – ufa! – última participação do governo Bolsonaro nas negociações climáticas da ONU.

Em tempo: A ex-ministra e deputada federal eleita Marina Silva conversou com O Globo sobre a expectativa em torno da política ambiental e climática do próximo governo Lula. Para ela, o país terá como desafio uma verdadeira “reconstrução pós-guerra” depois do desmonte empreendido e da devastação deixada por Bolsonaro. “Clima, combate à desigualdade, proteção das florestas, dos Povos Originários, reindustrialização de base sustentável, agricultura de baixo carbono. Esse é o Brasil sustentabilista-progressista que se anuncia”.

Em tempo 2: O governo Bolsonaro pode estar no fim, mas as encrencas acumuladas pelo presidente e seus auxiliares estão longe de terminar. Jamil Chade informou no UOL que representantes indígenas e ambientalistas apresentaram nesta 4ª feira (16/11) uma denúncia a cinco relatores especiais da ONU contra a gestão Bolsonaro por destruição do meio ambiente e violação dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas. A iniciativa é da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Conectas Direitos Humanos, Instituto Socioambiental (ISA), Observatório do Clima (OC) e WWF-Brasil. “Grandes extensões de terra já foram desmatadas e as taxas de desmatamento sob a gestão Bolsonaro estão em seu nível mais alto em mais de 15 anos. Esses ataques à floresta e aos Povos que vivem nela representam riscos reais para a vida da população da América do Sul e do mundo em geral”, diz a denúncia.

 

ClimaInfo, 17 de novembro de 2022.

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