A baixa credibilidade dos compromissos de net zero

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Reset

A Net Zero Tracker analisou compromissos climáticos dos 25 países que mais emitem gases de efeito estufa, das cidades com mais de meio milhão de habitantes e de 2.000 empresas listadas em bolsas mundiais. 30% desse grupo assumiu prometeu atingir o net zero um dia. Eles compararam esses compromissos com as recomendações recém publicadas do Grupo de Alto Nível convocado pelo secretário geral da ONU. O resultado é uma fotografia clara da inação e do greenwashing. A grande maioria diz que atingirá net zero só em 2050 e não estabelece metas intermediárias passíveis de serem acompanhadas. A maioria ou não inclui as emissões ao longo das cadeias de valor ou faz referência a apenas uma parte delas. Pouquíssimas declaram que não usarão créditos de carbono para compensar suas emissões, o que só deveria acontecer depois de feitos esforços sérios para redução de suas emissões. E a maioria que pretende usar, não especifica nem quanto, nem quando. Finalmente, só uma minoria publicou o plano através do qual pretende chegar ao net zero. Como dizem os autores, “sem um plano, um compromisso é simplesmente uma aspiração sem dizer o que fazer para alcançá-lo. E se esse plano não for publicado, os cidadãos, clientes e investidores não podem saber como será alcançado o net zero”. O pessoal da Argus comentou o trabalho dizendo que falta credibilidade aos compromissos da maioria das empresas analisadas.

Em tempo: As negociações em torno do Artigo 6, o dos mecanismos de mercado, entraram em um lodaçal. Depois do entusiasmo pós-Glasgow, sabia-se que o diabo estaria nos detalhes ou em como implementar coisas como Ajustes Correspondentes, alinhar a adicionalidade de projetos com as NDCs e o que fazer com a herança do MDL. Como conta Caroline Prolo, no Capital Reset, “essas discussões têm como pano de fundo a diversidade e discrepância entre as capacidades, experiências e os objetivos dos países com mercados de carbono, o que torna mais difícil se criar regras aplicáveis para todos.” Para complicar, está na mesa um tipo de crédito de carbono “sem autorização”, ou seja, que permite que mais de um agente (país ou empresa) o declare, abrindo a porta para dupla contagem de reduções. Aliás, não só, abre-se para dupla, tripla ou múltiplas contagens. Dizem que servirá para o país sede usar na sua NDC e para o mercado voluntário. Há quem ache que isto tiraria de vez a credibilidade desse instrumento.

 

ClimaInfo, 18 de novembro de 2022.

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