Após a pandemia, as vendas de combustíveis no Brasil mostram uma configuração diferente. Como a recuperação das vendas incluiu o corte de impostos sobre a gasolina, o consumo de etanol em 2022 está sendo o menor dos últimos cinco anos.
“Andamos para trás. O Brasil passou a importar mais combustíveis e exportar empregos e divisas”, declarou o ex-diretor da ANP Luiz Augusto Horta, à Folha. “Foi uma intervenção atabalhoada, equivocada, que só privilegiou gasolina e diesel.”
As vendas de biodiesel também foram derrubadas pela redução na mistura obrigatória no diesel e recuaram a níveis de 2019. Com menos biodiesel e aumento das vendas, as importações de diesel dispararam no primeiro semestre, chegando a 7 bilhões de litros, alta de 31% em relação a 2019, antes da pandemia.
E por falar em estratégia equivocada, a Petrobras continua colocando suas fichas no petróleo. O plano estratégico 2023-2027 ratifica a prioridade da estatal de investir no pré-sal, segundo o Valor. Em 2023, 74% da produção virá do pré-sal, passando para 78% em 2027. Como há coparticipação de outras empresas em algumas áreas e há um declínio natural na produtividade dos poços, haverá necessidade de novos aportes para manter a produtividade.
Sim: embora o pico das emissões de gases de efeito estufa precise ser atingido nos próximos anos e começar a cair já a partir desta década para termos alguma chance de manter o aquecimento médio do planeta em 1,5ºC, como prevê o acordo climático de Paris, a Petrobras (assim como várias outras petroleiras) vai investir ainda mais para manter a extração da principal fonte dos gases de efeito estufa. No caso da Petrobras, com a entrada de 18 novas plataformas em operação – número que corresponde a incríveis 50% das novas unidades desse tipo no mundo.
Em entrevista ao Valor, o coordenador-executivo do grupo de trabalho de energia da equipe de transição, Maurício Tolmasquim, disse que “alguns aspectos [do plano estratégico da Petrobras] vão ser revistos, como a transição energética”. A mudança de rumo integra a lista de promessas eleitorais do presidente eleito, que sinalizou a intenção de fazer da petroleira uma investidora de projetos de energia renovável como usinas de geração eólica e solar.
Outras petroleiras insistem em não colaborar com a transição energética: em evento sobre segurança energética promovido pela FGV Energia, o vice-presidente de sustentabilidade da Shell repetiu a velha ladainha de que não é possível eliminar os fósseis nas próximas décadas e defendeu o gás como combustível de transição. No caso brasileiro só se o VP da Shell estiver se referindo a uma transição para uma economia mais carbonizada. A notícia é também do Valor.
ClimaInfo, 7 de dezembro de 2022.
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