Biodiversidade: nos bastidores, indústria pressiona contra políticas mais fortes de preservação

COP15 Montreal evento
Andrej Ivanov / AFP

Na surdina, representantes de grandes produtores de pesticidas e fertilizantes estão pressionando os governos contra objetivos e políticas mais fortes para preservação da diversidade biológica. De acordo com o InfluenceMap, lobistas do setor atuaram nos últimos anos para enfraquecer propostas ambientais nos EUA e na Europa, contaminando as discussões prévias à Conferência da ONU sobre Biodiversidade (COP15).

“À medida que a COP15 avança para finalizar novas metas de biodiversidade, os principais lobistas da indústria estão trabalhando nos bastidores para tentar diluir a ambição política”, afirmou Rebecca Vaughan, gerente do InfluenceMap, à AFP.

“Acompanhamos os esforços de associações industriais que representam alguns dos maiores produtores mundiais de pesticidas e fertilizantes (…) resistindo fortemente às metas globais e da UE para reduzir o uso de agroquímicos que prejudicam a biodiversidade”.

Um dos focos do lobby industrial é barrar o objetivo de proteger 30% do território terrestre e marinho do planeta até 2030, batizado de “30×30”. Ele é um dos pontos mais importantes em Montreal. Já representantes da sociedade civil defendem uma meta ainda mais ambiciosa, de 50%.
Não coincidentemente, este é um dos pontos mais complicados das negociações na COP15. Como Ana Carolina Amaral destacou na Folha, países como o Brasil, China e África do Sul atuam contra essa meta, defendendo uma abordagem de objetivos nacionais ao invés de um número global. Os países desenvolvidos, por sua vez, defendem uma meta global, jogando a responsabilidade pela conservação nos países detentores da biodiversidade que resta.

Apesar dessa discussão, há dúvidas em relação à viabilidade técnica desse objetivo global. A revista New Scientist ouviu conservacionistas que estão céticos a essa possibilidade, em grande parte pela situação dramática atual. Para eles, “interromper e reverter” a perda da biodiversidade pode custar 80 anos ao invés dos oito até 2030.

“Parece ótimo, queremos fazê-lo, mas acho que a inércia no sistema é tal que simplesmente não é possível”, assinalou David Obura, da Coastal Oceans Research and Development in the Indian Ocean (CORDIO), baseado no Quênia. 

“Leva tempo para os organismos crescerem, especialmente os de grande porte, como árvores ou grandes herbívoros, que têm um grande impacto na dinâmica do sistema. Pode levar 100 anos ou mais para um ecossistema realmente passar por estágios de sucessão importante, para chegar a um ponto final que conta para o que queremos”.

 

ClimaInfo, 9 de dezembro de 2022.

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