Biden defende planos climáticos, mas sinaliza consumo de energia fóssil no médio prazo

Biden fósseis
AP / Patrick Semansky

O presidente americano Joe Biden “deu uma no cravo e outra na ferradura” em seu discurso ao Congresso dos Estados Unidos na última 3ª feira (7/2). Ao mesmo tempo em que defendeu as medidas climáticas adotadas pelo Inflation Reduction Act (IRA) aprovado no ano passado, afirmou que a economia do país ainda precisará de combustíveis fósseis por algum tempo.

“Vamos precisar de petróleo por pelo menos mais uma década, e [possivelmente] além disso”, disse Biden. A frase, que não estava prevista na versão preparada do discurso, jogou um balde de água fria nos ativistas climáticos que esperavam uma defesa mais explícita da transição energética para fontes renováveis.

A oposição republicana foi rápida ao acusar Biden de hipocrisia e de vender um “mundo de sonhos”, como assinalou o senador Lindsey Graham. Já entre os democratas, a frase foi contextualizada dentro de um raciocínio realista: Biden teria apenas reconhecido o “óbvio” – que não dá para acabar com o consumo de combustíveis fósseis do dia para a noite. A Associated Press abordou esse burburinho.

Se a ambiguidade da frase deu margem para leituras diversas, a fala de Biden sobre os lucros exorbitantes da indústria petroleira no ano passado foi contundente. “Vocês devem ter notado que o Big Oil acaba de reportar lucros recordes. No ano passado, eles faturaram US$ 200 bilhões em meio a uma crise global de energia. [Isso] É ultrajante!”.

Biden reclamou que as grandes indústrias de combustíveis fósseis investiram pouco desse lucro no aumento da produção doméstica e usaram o grosso dos recursos para recomprar suas próprias ações, recompensando executivos e acionistas. Por isso, o presidente dos EUA propôs ao Congresso que o imposto sobre recompra de ações corporativas seja quadruplicado para encorajar investimentos de longo prazo.

Na Bloomberg, Javier Blas contextualizou as observações de Biden dentro da dinâmica que deve marcar as negociações climáticas até a COP28, em novembro. Para ele, o líder norte-americano deixou claro que a prioridade política da Casa Branca seguirá sendo a segurança energética, com oferta garantida e preços preferencialmente mais baixos.Bloomberg, Earth e The Hill também repercutiram as falas de Biden sobre clima e energia fóssil nos EUA.

ClimaInfo, 9 de fevereiro de 2023.

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