Mais de dez diretores da petroleira Shell foram denunciados na Justiça do Reino Unido, sob a acusação de não alinharem práticas e políticas da empresa à mitigação dos riscos decorrentes da mudança do clima, o que violaria os interesses de seus acionistas. O processo é o primeiro exemplo de litigância climática que mira não a empresa em si, mas seus gestores.
A ação foi apresentada pela ClientEarth, representando um grupo de investidores da Shell, ao Supremo Tribunal da Inglaterra e do País de Gales. A denúncia arrola 11 diretores da Shell, acusados de descumprirem seus deveres legais sob a Lei das Sociedades ao não adotar e implementar uma estratégia de transição energética alinhada ao Acordo de Paris.
“A mudança para uma economia de baixo carbono não é apenas inevitável, ela já está acontecendo. No entanto, o Conselho [da Shell] persiste com uma estratégia de transição que é fundamentalmente falha, deixando a empresa seriamente exposta aos riscos que a mudança climática representa para o sucesso futuro da Shell”, afirmou Paul Benson, advogado sênior da ClientEarth. “A Shell pode estar obtendo lucros recordes agora devido à turbulência do mercado global de energia, mas os combustíveis fósseis já estão condenados em longo prazo”.
Na semana passada, a Shell anunciou o maior lucro anual de sua história, de US$ 40 bilhões em 2022. Ao mesmo tempo, a empresa afirmou que não pretende aumentar os investimentos em sua divisão de energia renovável neste ano, mesmo com o caixa reforçado com os ganhos do ano passado.
A notícia foi reportada por Bloomberg, CNBC, Financial Times, Guardian, Reuters e Wall Street Journal, entre outros.
Em tempo: Ainda sobre a Shell, a Bloomberg publicou uma análise bastante crítica sobre a estratégia de descarbonização da petroleira. Mesmo com seu compromisso de atingir a neutralidade líquida de suas emissões de carbono até 2050, a empresa segue apostando na produção de combustíveis fósseis, em um ritmo e patamar que inviabilizam o cumprimento dessa meta.
ClimaInfo, 9 de fevereiro de 2023.
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