Usina de Belo Monte: passado, presente e (será?) futuro

Belo Monte impactos negativos
Lalo de Almeida / Folhapress

Julho de 2010. No auge de sua popularidade, o presidente Lula visitou Altamira (PA) para defender pela enésima vez a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. “Nós nunca mais vamos querer uma hidrelétrica que cometa o crime de insanidade que foi Balbina, no Amazonas, [ou] Tucuruí. Nós queremos fazer alguma coisa nova”, disse.

Mais de uma década depois, muita coisa mudou. Belo Monte não é mais um projeto abstrato, mas uma realidade – e não exatamente aquela imaginada por Lula. Como bem assinalou Helena Palmquist na Sumaúma, há fatos e provas abundantes para afirmar que, infelizmente, Belo Monte se tornou um “crime de insanidade”.

A reportagem fez um raio-X do impacto de Belo Monte. Em quatro Terras Indígenas atingidas pela usina, o desmatamento entre 2019 e 2020 foi maior do que em todos os outros 311 territórios na Amazônia. Ribeirinhos e famílias desalojadas pela obra ainda esperam por um reassentamento digno do nome. Altamira se tornou uma das cidades mais violentas do Brasil. Sem falar, claro, nas ilegalidades associadas à construção da usina, que ainda estão sendo investigadas.

Em uma ironia do destino, caberá ao presidente Lula, que inicia seu 3º mandato no governo federal, renovar a licença de operação da hidrelétrica, vencida em novembro de 2021. “Lula, agora, tem um encontro marcado – e incontornável – com Belo Monte”, escreveu Palmquist.

Dificilmente Lula deixará de renovar a licença de operação de Belo Monte. De toda forma, a decisão será um “momento da verdade” para o compromisso ambiental feito pelo presidente desde a campanha eleitoral no ano passado. O discurso desenvolvimentista que sustentou o projeto no passado ficou não apenas envelhecido, mas também foi esvaziado pela própria realidade. Se o presidente quiser honrar suas promessas socioambientais, terá que reconhecer esse erro e trabalhar para mitigar as consequências negativas.

Em tempo: O Pará é lar de duas das maiores usinas hidrelétricas totalmente nacionais em operação no Brasil – Tucuruí e Belo Monte. Ainda assim, é o estado brasileiro com o maior número de brasileiros sem acesso à energia elétrica: cerca de 153 mil famílias, que representam 8% da população paraense, vivem sem eletricidade. O que explica isso? Juliana Faddul abordou a questão na piauí.

ClimaInfo, 9 de março de 2023.

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