Japão prepara descarte de água da usina nuclear de Fukushima no mar

água contaminada Fukushima
REUTERS/Kim Kyung-Hoon

Doze anos após um dos maiores acidentes nucleares da história, na usina de Fukushima, no Japão, o governo do país e a operadora Tokyo Electric Power (TEPCO), responsável pela operação, estão prestes a iniciar o descarte no mar de parte da água usada no resfriamento da planta termonuclear. De acordo com o Nikkei Asia, os planos estão avançando rapidamente, apesar dos protestos de pescadores e comunidades locais.

Desde que um terremoto, seguido de uma tsunâmi, em 11 de março de 2011, derrubaram os sistemas de resfriamento dos reatores de Fukushima, a TEPCO bombeia água nos detritos de combustível para evitar o superaquecimento, gerando cerca de 100 toneladas de águas residuais por dia.

O complexo de Fukushima abriga atualmente cerca de 1.060 tanques contendo água tratada. Na praia próxima à usina, um novo tanque, de 37 metros de largura e 7 metros de altura, estava em construção no início de fevereiro. A água residual armazenada é suficiente para encher 500 piscinas olímpicas. E a construção de um túnel submarino para liberar a água tratada da instalação está cerca de 80% concluída.

Enquanto o governo japonês e a TEPCO dizem que a operação é segura, pescadores da região se desesperam. “Já se passaram 12 anos e os preços do peixe estão subindo, finalmente esperamos realmente começar a trabalhar. Agora eles estão falando em liberar a água e vamos ter que voltar à estaca zero novamente. É insuportável”, disse Ono, pescador de 71, à Reuters.

À AP, a TEPCO disse que a radioatividade pode ser reduzida a níveis seguros e que vai garantir que a água a ser descartada seja tratada até atingir o limite legal. Contudo, o trítio, um elemento radioativo, não pode ser removido pelo sistema de filtragem usado pela empresa. A TEPCO garante que os níveis do elemento presentes no líquido a ser descartado são inofensivos. Mas ainda há muitas dúvidas sobre a possibilidade de contaminação do Oceano Pacífico.

Em artigo no The Conversation, especialistas da Universidade Nacional da Austrália, da Universidade de Sydney e da Universidade de Curtin refutam esse risco. Segundo eles, “a descarga anual de trítio em usinas nucleares próximas excede em muito o que é proposto para Fukushima”. Alegam também que “o Pacífico sempre conteve radioatividade, especialmente do potássio. A radioatividade extra a ser adicionada da água de Fukushima não causará o mais mínimo dano”.

Já para o professor Rubens Cesar Lopes Figueira, do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo (USP), é preciso discutir os perigos desse descarte, já que o Oceano Pacífico banha dezenas de países. “É óbvio que vai atingir outros países, atingir a pesca, vai ter um problema ambiental”, disse ele, ao Jornal da USP.

Em tempo: O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), Rafael Grossi, pediu que a entidade se comprometa de fato em garantir a segurança operacional da usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia – a maior planta termonuclear da Europa. Segundo a BBC, o alerta foi dado após um novo ataque russo, que deixou a usina sem energia. Foi a sexta vez em que isso ocorreu, segundo o diretor da agência. “Estou surpreso com a complacência. O que estamos fazendo para evitar que isso aconteça? Nós somos a IAEA, devemos nos preocupar com a segurança nuclear.”

ClimaInfo, 14 de março de 2023.

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