Duas medidas recentes do Banco Mundial para Moçambique colocaram em xeque a abordagem climática da principal instituição financeira multilateral do mundo, especialmente para países pobres e vulneráveis às mudanças do clima.
O primeiro projeto é o da usina hidrelétrica de Mphanda Nkuwa, no rio Zambeze, na província de Tete. Com potência estimada em 1,5GW, ele é vendido pelo governo moçambicano como “chave” para enfrentar a pobreza energética e atingir sua meta de acesso universal à energia até 2030.
Com orçamento de 4,5 bilhões de dólares, a hidrelétrica tem entre seus financiadores a International Finance Corporation (IFC), braço privado do Banco Mundial, e o Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB). O desenvolvimento do projeto pelo governo de Moçambique também contou com apoio das duas entidades financeiras multilaterais.
No entanto, como destacou o Climate Home, grupos ambientalistas dizem que a represa ameaça impactar as comunidades e os ecossistemas locais. Ao mesmo tempo, moradores da região que será inundada também reclamaram por não terem sido consultados sobre o projeto.
Um argumento contrário ao projeto assinala a realidade da geração elétrica no país: hoje, ele já produz energia suficiente para atender às necessidades domésticas, mas opta por exportar parte dela para a África do Sul. Outro ponto, mais sensível, é o histórico de (mal) tratamento das populações locais afetadas por grandes empreendimentos, especialmente de energia.
O segundo projeto é a construção de infraestrutura para exploração das vastas reservas de gás natural de Moçambique. De acordo com a Bloomberg, o Banco Mundial estuda apoiar essa iniciativa se ela se mostrar a maneira mais barata de aumentar o acesso à energia no país – a despeito de seu impacto climático.
“Nossa opinião é que podemos apoiá-lo se não houver outras opções de menor custo, e isso no contexto de um plano de transição claramente articulado”, argumentou Victoria Kwakwa, vice-presidente do Banco Mundial para a África Oriental e Austral. “Ele [gás] pode desempenhar um papel importante no processo de transição”.
A decisão de investimento do Banco Mundial nesses projetos deixa evidente um dos principais desafios que seu futuro presidente, o indo-americano Ajay Banga, terá pela frente em sua gestão: o alinhamento do portfólio de financiamentos da instituição com os objetivos climáticos globais do Acordo de Paris.
ClimaInfo, 14 de março de 2023.
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