Índia prevê calor intenso e aciona 100% das termelétricas para garantir energia

Índia calor extremo
REUTERS/Danish Siddiqui

“O cachorro correndo atrás do rabo” resume o ciclo vicioso no qual a Índia está entrando novamente, a pouco mais de dois meses do início do verão no Hemisfério Norte. Com frequentes ondas de calor extremo que estão prestes a tornar o país mais populoso do mundo num lugar onde a sobrevivência humana é impossível – efeito das mudanças climáticas –, os indianos agora vão tentar amenizar as altas temperaturas produzindo mais energia suja e poluente.

Pelo segundo ano consecutivo, o governo da Índia ordenou que as usinas a carvão do país funcionem com potência total. O pedido, porém, é ainda mais amplo do que o do ano passado, destaca a AP: todos os geradores a carvão e a derivados de petróleo estarão produzindo energia no máximo de abril a junho. Analistas dizem que isso aumentará dramaticamente as já altíssimas emissões de gases de efeito estufa da Índia.

O ministério de energia indiano prevê que o pico de demanda de eletricidade atingirá um novo recorde em abril, quando as pessoas ligarem seus aparelhos de ar-condicionado, ventiladores e unidades de refrigeração. Para garantir o abastecimento elétrico, o governo autorizou, inclusive, a importação de carvão, já que a produção doméstica do combustível fóssil pode não ser suficiente. O consumo de gás natural também deve subir – termelétricas movidas a esse combustível também foram demandadas a elevar sua geração para atender à demanda de verão, explica a Bloomberg.

A previsão é de que várias partes da Índia tenham um clima mais quente do que o normal até junho. Mais dias de ondas de calor do que a média são prováveis ​​na maior parte do centro, leste e noroeste indianos nesta temporada, disse o Departamento Meteorológico da Índia (IMD, na sigla em inglês). No inverno, em fevereiro, o país registrou máxima média de 29,5°C, a maior desde 1901, quando o IMD começou a manter registros meteorológicos, informa a Reuters.

Para exemplificar a tragédia humana que pode se abater sobre a Índia e países do entorno em meio às ondas de calor, a Economist cita o livro “O Ministério para o Futuro”, de Kim Stanley Robinson. A planície indo-gangética, que se estende do Paquistão, passando pelo norte indiano até Bangladesh, abriga 700 milhões de pessoas e é excepcionalmente vulnerável aos pulsos de calor que as mudanças climáticas estão tornando mais frequentes.

Entre 2000 e 2019, o sul da Ásia registrou mais de 110.000 mortes por ano devido ao aumento das temperaturas, segundo estudo da Lancet Planetary Health citado pela Economist. O período de março ao início de junho do ano passado foi um dos mais quentes registrados na região. E isso deve se repetir ou piorar neste ano.

A Índia vem tentando ao menos limpar sua matriz elétrica, trocando a geração de energia a carvão e outros combustíveis fósseis por fontes renováveis e sem emissões atmosféricas. O país vai lançar licitações para instalar 250 gigawatts (GW) de capacidade de energia “verde” até março de 2028, conta a Reuters, enquanto busca reduzir suas emissões em 45% em relação aos níveis de 2005.

Em tempo 1: As exportações de lítio da Austrália deverão se igualar às vendas externas de carvão térmico em cinco anos, segundo projeções do governo do país. As exportações do metal para baterias são estimadas em US$ 13 bilhões anuais até junho de 2028, igualando o recorde do atual ano fiscal. Enquanto isso, o valor dos embarques de carvão cairá 71% no período, informa a Bloomberg. As projeções mostram o papel crescente que metais como lítio e cobre devem desempenhar na Austrália, um dos maiores exportadores de combustíveis fósseis do mundo, reforça o Sidney Morning Herald.

Em tempo 2: O uso do hidrogênio na geração elétrica está na berlinda e sob o risco de ser acusado de greenwashing. Concessionárias europeias querem implantar termelétricas a gás natural que possam ser convertidas para hidrogênio limpo, mas a substituição tem baixa eficiência energética, explica a Bloomberg. RWE, SSE e Equinor dizem que a troca será fácil quando o hidrogênio verde se tornar abundante e mais barato. Mas, no momento em que ele é produzido, armazenado e queimado para gerar eletricidade, há quase 70% menos energia do que no início – e o custo triplicou. Além disso, pode não haver tecnologia limpa suficiente para produzir esse hidrogênio, deixando espaço para os combustíveis fósseis.

ClimaInfo, 5 de abril de 2023.

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