China compra quase metade da soja de áreas desmatadas da Mata Atlântica

14 de abril de 2023
Mata Atlântica soja 2
SOS Mata Atlântica

O presidente Lula foi à China para reaproximar o Brasil de seu maior parceiro comercial, após quatro anos de paralisia e distanciamento provocados por aquele que não precisa ser nomeado. A questão climática é um dos temas da pauta, embora não haja expectativa de grandes acordos na área.

Já ajudaria bastante se o gigante asiático não importasse soja de áreas desmatadas do Brasil. Contudo, dados de 2020 obtidos com exclusividade pela Agência Pública mostram que a China importou quase metade da oleaginosa colhida em áreas desmatadas na Mata Atlântica durante os cinco anos anteriores. Os dados foram analisados pela Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com a ONG Trase, que rastreia cadeias de produção de commodites agropecuárias, como a própria soja.

Segundo o levantamento, em 2020 – ano mais recente do mapeamento –, havia 22,3 mil hectares de soja, uma área maior que Recife, capital de Pernambuco, em locais de Mata Atlântica devastados entre 2015 e 2019. Os dados revelam que 46% da soja produzida nessa área desmatada foram exportados para a China. Outros 44% foram destinados ao mercado brasileiro, e cerca de 3% à União Europeia, informa o MSN.

Os números mostram prováveis infrações à Lei da Mata Atlântica, em vigor desde dezembro de 2006, que proíbe a retirada da vegetação original (primária) e a que cresce após o desmatamento (secundária) que esteja em estágio avançado de regeneração. A lei permite o desmatamento em poucas situações, como construção de infraestruturas pelo Estado, o que configura “utilidade pública”.

Em artigo no Valor, Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da SOS Mata Atlântica, e Vivian Ribeiro, líder do time de Inteligência Geoespacial da Trase, lembram de um estudo lançado na COP27, em novembro do ano passado, que mostrou que a Mata Atlântica responde por mais da metade da produção agropecuária e de alimentos do Brasil: 32% da soja, 46% da cana-de-açúcar, 68% do tomate, 63% da banana e 61% da cebola, além da presença de 27% do rebanho bovino nacional.

“A Lei da Mata Atlântica somente permite desmatamentos em situações excepcionais, quando houver interesse social ou de utilidade pública – o que não se justifica para a expansão da agropecuária e no contexto de um bioma que passa ao mesmo tempo por crises hídricas e é vítima dos desastres das chuvas intensas resultantes do aquecimento global e das mudanças climáticas. Não faltam exemplos de desabastecimento de água, como observado na região metropolitana de Curitiba, e de desastres, como o caso recente ocorrido no litoral norte do estado de São Paulo”, avaliam os especialistas.

Segundo o assessor especial do Ministério da Agricultura, Carlos Augustin, a trader chinesa Cofco – uma das maiores do mundo e com grande atuação no Brasil – e outros players estrangeiros estão interessados ​​em ajudar o país a recuperar terras agrícolas degradadas e reduzir a pegada de carbono da agricultura, informa a Reuters.

A conferir. Até porque, no que depender da demanda da China, talvez esse cenário demore a mudar. A Reuters relata que as importações chinesas de soja em março aumentaram 7,9% em relação a igual mês do ano anterior, elevando as chegadas do primeiro trimestre a um recorde, mesmo com a procura crescendo abaixo do esperado.

Em tempo: Fazendas de gado irregulares em Unidades de Conservação da Amazônia são um desafio no combate ao desmatamento ilegal. O Profissão Repórter acompanhou operações do ICMBio com dois flagrantes de extração ilegal de madeira, nas Florestas Nacionais (FLONAs) do Jamanxim e Itaituba II, no Pará. Em Jamanxim, os agentes encontraram sinais de grande movimentação de maquinário pesado e o que restou de uma árvore enorme e centenária, derrubada pelos desmatadores. Em Itaituba II, os agentes foram à área de desmatamento e encontraram 16 grandes toras de madeira de árvores derrubadas. A fazenda já havia sido autuada anteriormente por desmatamento.

ClimaInfo, 14 de abril de 2023.

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