O fim da era nuclear na Alemanha e o desafio da energia em tempos de crise

Alemanha energia nuclear
Armin Weigel/dpa via AP

A Alemanha e a energia nuclear tiveram uma história intensa e atribulada – que chegou ao seu final no último sábado (15/4), quando as últimas usinas nucleares alemãs foram desligadas do grid nacional. No entanto, o fim da geração nuclear na maior economia da Europa traz desafios importantes para o país, especialmente depois dos efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia na geopolítica energética.

O fechamento das usinas nucleares era um sonho antigo de grupos ambientalistas alemães, muitos nascidos do movimento antinuclear que emergiu no final dos anos 1960. Na época, parecia um objetivo inalcançável: a Alemanha chegou a ser um dos maiores produtores de energia nuclear da Europa.

De lá pra cá, muita coisa aconteceu. No plano político, os ambientalistas alemães se organizaram em torno do Partido Verde, em estratégia que foi replicada em diversos países nos anos seguintes (sem muito sucesso, aliás). Ao mesmo tempo, a diversificação da matriz energética, impulsionada pela disseminação de fontes renováveis como eólica e solar, permitiu aos alemães vislumbrar um futuro sem a necessidade da energia nuclear, a tal ponto que a meta foi formalizada em lei em 2002.

Isso se tornou ainda mais concreto no começo dos anos 2010, quando o governo da ex-chanceler Angela Merkel determinou o fechamento das usinas nucleares alemãs depois do desastre de Fukushima, no Japão. Os planos climáticos da Alemanha colocaram as fontes renováveis no centro de sua estratégia energética, o que aproximou a geração nuclear de seu fim.

No entanto, a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 colocou esse cronograma em xeque. A desativação das usinas nucleares na Alemanha aconteceu ao mesmo tempo em que o país intensificou o uso de gás fóssil importado da Rússia. O fornecimento do combustível ficou comprometido por conta da resposta de Moscou às sanções aplicadas pela União Europeia contra o regime de Vladimir Putin.

A guerra e seus reflexos na geopolítica energética quase motivaram um freio de Berlim ao fim da geração nuclear. O chanceler Olaf Scholz chegou a sugerir um adiamento da desativação das usinas nucleares ainda em operação no país. Isso só não foi para frente por conta da oposição do Partido Verde, um dos principais parceiros do governo no Parlamento alemão.

De toda forma, o fim da era nuclear na Alemanha deixa em aberto a questão da segurança energética. Sem os reatores nucleares e o gás russo, os alemães não têm outra alternativa que não seja pisar no acelerador para aumentar a geração por fontes renováveis.

Associated Press, Bloomberg, Reuters e Washington Post repercutiram o fechamento das últimas usinas nucleares na Alemanha.

ClimaInfo, 17 de abril de 2023.

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